Espanha, Irlanda e Noruega anunciaram nesta quarta-feira (22) a decisão de reconhecer a Palestina como Estado a partir de 28 de maio, um passo que evidencia a divisão na União Europeia (UE), que tem trabalhado sem sucesso para encontrar uma posição comum desde o início da guerra em Gaza. “Há muitos, muitos meses” os 27 Estados-membros pediram “um cessar-fogo em Gaza” e reiteraram “seu apoio à solução de dois Estados”, o israelense e o palestino, mas “devemos ser sinceros e reconhecer que não é suficiente”, declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, no Parlamento de Madri. Sánchez, que por meses negociou com outras capitais europeias para anunciar o próximo passo, anunciou que a Espanha reconhecerá o Estado palestino em 28 de maio, assim como Irlanda e Noruega – este último país não é membro da UE. Israel respondeu e convocou seus embaixadores nos três países para consultas. “Chegou o momento de passar das palavras à ação, de dizer aos milhões de palestinos inocentes que sofrem que estamos com eles, que há esperança”, declarou Sánchez, que acusou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de colocar em “perigo” a possibilidade de dois Estados com sua política de “dor e tanta destruição”. A solução de dois Estados é o “único caminho crível para a paz e a segurança, para Israel e a Palestina, e para os seus povos”, afirmou em Dublin o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris.
França e Alemanha, relutantes
Madri, Dublin e Oslo esperam ser acompanhados por outros países europeus. Em março, os governantes da Eslovênia e de Malta assinaram em Bruxelas um comunicado conjunto com Madri e Dublin, no qual expressavam o desejo de adotar a mesma medida. O governo esloveno anunciou um decreto neste sentido em 9 de maio, com a intenção de enviá-lo ao Parlamento para aprovação até 13 de junho. Até o momento, a Suécia, que adotou a medida em 2014, era o único país UE a reconhecer a Palestina como Estado, sendo um país membro da UE. República Tcheca, Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia e Chipre também já reconheceram, mas antes de aderir ao bloco. Mas a questão do Estado Palestino, reconhecido por 142 dos 193 Estados-membros da ONU, segundo a Autoridade Palestina, divide a UE. Isto ficou evidente em uma declaração do chefe da diplomacia francesa, Stéphane Séjourné, que afirmou nesta quarta-feira à AFP que o reconhecimento da Palestina “não é um tabu para França”, mas que este não é um bom momento. A decisão deve ser “uma ferramenta diplomática a serviço da solução de dois Estados que convivam em paz e segurança”, disse. A Alemanha, que também defende a solução de dois Estados, considera que o reconhecimento da Palestina deve ser resultado de negociações diretas entre as partes em conflito. A Arábia Saudita elogiou a iniciativa de Madri, Dublin e Oslo, que chamou de “decisão positiva”.
Consequências graves
A iniciativa de Madri, Dublin e Oslo foi celebrada como o início de uma “etapa importante” pelo movimento islamista Hamas e como um momento “histórico” pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), considerada internacionalmente a única representante legítima do povo palestino. Israel afirmou que “não permanecerá calado” e convocou os embaixadores na Noruega, Irlanda e Espanha para consultas. “Os passos precipitados dos países terão mais consequências graves”, afirmou o chefe da diplomacia do país, Israel Katz. O ministro acrescentou que os embaixadores dos três países europeus também serão convocados ao Ministério das Relações Exteriores de Israel para uma advertência. A Noruega teve um papel fundamental no processo de paz no Oriente Médio na década de 1990, ao abrigar as primeiras negociações que resultaram nos Acordos de Oslo e no histórico aperto de mão, em 1993 na Casa Branca, entre o israelense Yitzhak Rabin e o palestino Yasser Arafat. O processo começou em Madri com uma Conferência de Paz Árabe-Israelense em outubro de 1991. A guerra em Gaza começou com o ataque sem precedentes do Hamas em 7 de outubro, que matou mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses. Desde então, mais de 35.000 palestinos, a maioria civis, morreram na Faixa de Gaza em bombardeios e operações militares israelenses, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza.
JP com informações de AFP