Nem a SuperVia, nem a PM explicaram por que o crime não foi informado à Polícia Civil
Rio – A Polícia Civil informou, na noite desta terça-feira, que o sequestro sofrido por um maquinista da SuperVia não foi registrado em nenhuma delegacia. Por isso, o caso não tem como ser investigado. Eram 6h30 da última segunda-feira quando seis bandidos — alguns armados — invadiram a cabine do maquinista em um trem com passageiros na estação Manguinhos. Eles obrigaram o profissional a transportá-los até perto do viaduto da Mangueira, onde deram ordem de parada para desembarcarem antes da estação Maracanã. O Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer), da Polícia Militar, foi acionado pela empresa.
A SuperVia esclareceu que nada foi roubado e que os bandidos queriam uma “carona” de um ponto a outro. O trem seguiu viagem. Nem a concessionária, nem a PM explicaram por que o crime não foi informado a nenhuma delegacia.
“Está errado. Tem que registrar para orientar a atuação da PM. Além disso, como a Polícia Civil vai investigar para evitar outros casos?”, criticou o presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, Valmir de Lemos.
Os 600 mil passageiros diários e os 2.800 ferroviários ficam expostos. Só este ano, a SuperVia alterou a circulação 58 vezes por causa de tiroteios, incluindo os registrados em operações da PM no Jacarezinho, nos últimos dois dias. “O pessoal já teve que parar manutenções na rede aérea por causa de ameaças. Não é fato isolado”, completou Lemos.
Segundo Paulo de Tarso, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Rio, até quatro profissionais eram afastados por dia, de quatro anos para trás, porque não se adaptavam à rotina violenta. “Viviam sofrendo e vendo assaltos. A taxa diminuiu porque a segurança melhorou e a circulação de dinheiro diminuiu”, explicou Tarso. Relatos de passageiros, abaixo, confirmam que o terror anda de trem.
“A concessionária conta com equipe de assistência social para prestar apoio e atendimento especializado aos seus funcionários em situações diversas, principalmente em casos como esse vivido pelo maquinista”, ressaltou a empresa em nota.
“Importante reforçar que, de acordo com o contrato de concessão, a segurança pública no sistema ferroviário é uma atribuição do Governo do Estado, que atua por meio do GPFer. Os agentes de controle da SuperVia que atuam nos trens e estações não têm poder de polícia, portanto não possuem meios adequados e seguros para combater problemas como esses”, reforçou.
DONATA AMARAL, 44 ANOS: ‘Me mudei para não pegar o trem’
“Já morei em Austin. Me mudei para evitar pegar o trem. Quando apontam uma arma, é a maior agressão. Ficam irritados quando você não tem o que dar. No horário de 10h30, eu via pessoas perdendo carteira, celular relógio e ninguém pode fazer nada. Muitas vezes os seguranças viram o rosto. Já vi entrarem três bandidos e os caras se afastarem para não se envolverem. Sequestros, como esse último, não são novidade para quem anda de trem”.
JORDY GONÇALVES, 18 ANOS: ‘Qualquer um entra preocupado’
“Qualquer um já entra no trem preocupado e quer chegar a seu destino o mais rápido. Quando você sai de estações após São Cristóvão, acaba encontrando situações como essa que ocorreu. Bandidos pulam a catraca, invadem os trens e causam pânico, geralmente nas estações chegando à Baixada. Quando o governador participa de algum evento, tem um grande efetivo de policiais. Nas estações de trem, não vemos isso”.
SIMONE FERREIRA, 47 ANOS: ‘Escapei por pouco de arrastão’
“Segurança só tem aqui na Central, onde ficam policiais e guardas da SuperVia. O trem saiu, estamos sujeitos a qualquer coisa. Ando com a bolsa pra frente, evito celular, coloco no silencioso e no fundo da bolsa. Tem estações que não confio de ficar, como Juscelino, que é muito escura; Queimados e Engenheiro Pedreira. No ramal Paracambi teve arrastão no trem no início do ano, às 5h03. Escapei por pouco, porque fui no de 5h43”.
Após descarrilamento, normalização prevista para quarta-feira
A SuperVia informou, por meio do Twitter, que a normalização da operação no ramal Saracuruna e nas extensões Guapimirim e Vila Inhotim está prevista apenas para a manhã desta quarta-feira (18). Uma composição do ramal Saracuruna, que seguia para Gramacho, descarrilou próximo à estação de Cordovil, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio, na tarde desta terça. Os passageiros tiveram que andar na linha férrea. Segundo o Corpo de Bombeiros, equipes do quartel de Parada de Lucas foram acionadas às 16h10. Não houve feridos.
Por volta das 20h50, a Agetransp (agência reguladora) afirmou que havia dificuldade para recolocar o trem no trilho e que houve dano na rede aérea. A SuperVia distribuiu vale-viagem, siga-viagem e o valor da passagem para aqueles que estavam no sistema.
Dois trens da SuperVia descarrilaram em um intervalo de apenas dois dias nesta semana. No domingo, um trem descarrilou na chegada a Deodoro, na Zona Oeste. A empresa apontou que o incidente envolveu uma composição do ramal Japeri que seguia para a Baixada Fluminense. Por volta de 12h15, os passageiros foram obrigados a descer e caminhar pela linha férrea até o terminal mais próximo do local do descarrilamento. Na estação, os usuários puderam embarcar em outro trem e concluíram a viagem até Japeri. A SuperVia comentou que o trem foi retirado do local por volta das 15h10 e encaminhado à oficina para reparo. Também não houve feridos. (O Dia)