Mausoléu onde ditador estava enterrado era considerado único monumento a um líder fascista ainda existente na Europa
Os restos mortais do ditador espanhol Francisco Franco foram exumados nesta quinta-feira, 24, de um mausoléu público no Vale dos Caídos, nos arredores de Madri, onde estavam desde sua morte, há mais de quatro décadas.
Os restos mortais de Franco foram levados de helicóptero ao cemitério particular Mingorrubio El Pardo, ao norte de Madri, onde o ditador será enterrado ao lado de sua esposa.
Poucos momentos antes do início da operação para remover os restos mortais embalsamados e sepultá-los novamente, 22 membros da família do general, que governou a Espanha com mão de ferro entre 1939 e 1975 após sua vitória na Guerra Civil (1936-1939), entraram na basílica para acompanhar o procedimento.
Filmagens mostraram os familiares de Franco retirando seu caixão do túmulo após a exumação, que ocorreu a portas fechadas.
O governo do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez transformou a exumação em uma de suas prioridades depois de chegar ao poder em junho de 2018. O objetivo da medida era que o mausoléu deixasse de ser um lugar de exaltação do franquismo.
Críticos consideravam o Vale dos Caídos, assinalado por uma cruz de 152 metros de altura instalada na encosta de uma montanha perto de Madri, o único monumento a um líder fascista ainda existente na Europa.
Sánchez havia prometido a exumação ainda para 2018. Mas o processo foi adiado em mais de um ano pela batalha judicial iniciada por sete netos do ditador.
A oposição, tanto de direita como de esquerda, acusa o líder do PSOE de utilizar a exumação para obter frutos eleitorais a pouco mais de duas semanas das legislativas de 10 de novembro.
“Isto deveria ser feito em um período não pré-eleitoral”, disse o líder do partido de esquerda radical Podemos, Pablo Iglesias.
“Nós não vamos gastar nem um minuto para falar sobre o que aconteceu na Espanha há 50 anos”, declarou recentemente o líder do conservador Partido Popular (PP), Pablo Casado, enquanto Santiago Abascal, líder do partido de extrema-direita Vox, criticou a “profanação de um túmulo”.
Franco exerceu o poder na Espanha de 1939 até sua morte em 1975 e supervisionou pessoalmente a construção do Vale dos Caídos, da qual participaram presos políticos, em especial os que lutaram pela República. Durante seu governo, dezenas de milhares de pessoas foram mortas ou aprisionadas em meio a uma campanha para acabar com a dissidência.
O lugar conta com uma abadia beneditina, uma basílica e um enorme ossário onde estão os restos de mais de 30.000 republicanos e franquistas mortos durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).
No local também está enterrado José Antonio Primo de Rivera, líder da Falange Espanhola, um movimento de inspiração fascista dos anos 1930. (Veja)