O primeiro protesto do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento de R$ 0,10 nas tarifas do transporte público de São Paulo, realizado nesta terça-feira, 7, terminou em tumulto após manifestantes tentarem pular catracas do Metrô; cerca de 30 manifestantes foram detidos. Esvaziado, o ato aconteceu do Viaduto do Chá até a Avenida Paulista, mas contou com presença maior de policiais do que de participantes.
Tanto organizadores quanto a Polícia Militar informaram que 500 pessoas participaram do protesto. Já o número de PMs empenhados para atuar na passeata chegou a 800. A concentração começou às 17h e a passeata transcorreu pacificamente a maior parte do tempo. Já no fim, no entanto, após começar a cair uma chuva forte por volta das 20h30, um grupo de manifestantes entrou na Estação Trianon-Masp, cujas catracas foram cercadas por policiais do Batalhão de Choque para impedir a invasão. Entre eles, havia black blocs.
Dentro da Estação, o grupo continuou gritando palavras de ordem e pedia para pular as cancelas. Com um megafone, um PM avisou aos usuários que o local seria fechado por questões de segurança. Nessa hora, houve uma tentativa de avanço contra a linha policial e os agentes revidaram forçando os escudos.
Manifestantes atiraram pedaços de paus e tinta contra os agentes. Com o tumulto iniciado, o PM do megafone informou que a Estação seria evacuada. Houve correria e empurra-empurra. Acionada, uma equipe do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) avançou contra ativistas e profissionais da imprensa.
Na saída, placas de publicidade foram depredadas. A polícia usou spray de pimenta e cassetete. Um policial também ameaçou fazer uso da arma de bala de borracha. Do lado de fora, alguns manifestantes reagiram atirando garrafas de vidro contra guarnições.
Na Paulista, pessoas que voltavam para casa acabaram prejudicadas pelo tumulto. “Preciso pegar o Metrô, não sei o que fazer”, dizia uma mulher aos policiais que trancavam a entrada. Outra comentou: “se é por causa da manifestação não vou xingar: eles estão corretos”.
A Secretaria da Segurança Pública disse que um major da PM foi ferido por um estilhaço de vidro, tendo sido socorrido ao Hospital das Clínicas. “Após orientação dos PMs, os manifestantes foram conduzidos para a área externa da estação, que foi depredada. Um grupo com aproximadamente 30 manifestantes foi detido e encaminhado ao 78º DP, onde a ocorrência está sendo registrada”, declarou a pasta na noite desta terça. Durante a operação, foram apreendidos coquetéis molotov, recipientes com material inflamável entre outros objetos.
Em sua página oficial, o MPL diz que 22 foram detidos “arbitrariamente”, pois “somente tentavam voltar pra casa sem pagar tarifa!”.
A Companhia do Metropolitano disse que os manifestantes “danificaram vários equipamentos da estação, entre eles uma escada rolante, luminárias, placas de propaganda e ainda picharam portas e bloqueios da estação”. O tamanho do prejuízo está sendo contabilizado.
O protesto
À tarde, os manifestantes se reuniram em frente ao prédio da Prefeitura, no Viaduto do Chá. “Bem na virada do ano, o prefeito e o governador anunciaram o aumento da tarifa de R$ 4,30 para R$ 4,40. Cada centavo a mais exclui mais gente do transporte que deveria ser público”, disse Gabriela Dantas, do MPL. “Hoje é só a primeira (manifestação), isso é o começo de uma jornada de luta. A gente vai seguir na rua até conseguir a revogação do aumento.”
Entre as pautas, o movimento também protestou contra a redução de linhas e viagens de ônibus prevista em licitação da gestão Bruno Covas (PSDB). “Não vamos pagar mais para circular menos”, diz Gabriela. No ato, havia bandeiras de movimentos estudantis, como a UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), e de grupos políticos, como PSOL, PSTU, PCR.
Ainda durante a concentração, houve um momento de tensão. Cerca de 30 policiais foram revistar duas mulheres do MPL.
Ativistas reclamaram de truculência e acusaram os PMs de estarem pisando nas faixas confeccionadas para o protesto. Nas mochilas das jovens, os agentes só encontraram kits de primeiros socorros.
Aumento
O aumento das tarifas a passagem dos ônibus municipais de São Paulo, do Metrô e dos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) começou a vigorar no dia 1º de janeiro. O argumento para o reajuste foi o crescimento dos custos operacionais dos sistemas. O aumento, de 2,33%, ficou abaixo dos índices de inflação apurados ao longo de 2019, que passaram dos 3%.
Estadão Conteúdo