Veja – A Polícia Federal concluiu a investigação dos hackers que invadiram e roubaram mensagens de celular de autoridades da República e integrantes da Operação Lava-Jato. Após seis meses de apurações, foram indiciados Danilo Cristiano Marques, Gustavo Elias Santos, Thiago Eliezer Martins Santos e Walter Delgatti Neto. Eles responderão pelos crimes de associação criminosa, invasão de dispositivos telemáticos e interceptações. A tendência agora é que o Ministério Público Federal apresente à Justiça uma denúncia contra os envolvidos no esquema — que poderão se tornar réus e responder a uma ação penal.
Após a conclusão do inquérito, a Polícia Federal deverá continuar a investigação em outras duas frentes. A primeira irá apurar os indícios de golpes aplicados pelos hackers em clientes de instituições financeiras. Já a segunda terá como foco descobrir se por trás das invasões há um mandante ou um financiador dos ataques virtuais. A primeira parte do caso teve de ser concluída neste momento, porque o prazo concedido pela Justiça se esgota nesta semana e os envolvidos no esquema estão presos preventivamente sem uma acusação formal.
O inquérito foi instaurado em junho deste ano após o ministro da Justiça Sergio Moro e outras autoridades terem as suas contas no aplicativo de mensagens Telegram hackeadas. A partir daí, a diretoria de inteligência da Polícia Federal iniciou as apurações para descobrir quem estava por trás desses ataques virtuais. Em pouco tempo, foi identificado que a origem das invasões estava numa empresa de chamadas telefônicas no interior de Minas Gerais. Após ter feito uma incursão no local, a PF descobriu como funcionava o esquema e quem eram os seus operadores.Em julho, foi deflagrada a Operação Spoofing, que prendeu quatro suspeitos em Araraquara e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A investigação analisou o material apreendido e constatou que ao menos três dos quatro jovens detidos atuavam em invasões de celulares de autoridades da República e aplicavam golpes em clientes de instituições financeiras. Para apurar a motivação desses ataques, o delegado federal Luis Flávio Zampronha analisou movimentações bancárias dos envolvidos, mensagens de celulares apreendidos, arquivos extraídos de computadores, e-mails e as relações com outros personagens.
Diante das evidências da participação de novos personagens, a Polícia Federal deflagrou em setembro a segunda fase da Operação Spoofing — e prendeu mais dois suspeitos. Os investigadores passaram a apurar se havia um mentor por trás das invasões do Telegram e se os envolvidos no esquema estavam escondendo mensagens inéditas. Um dos integrantes da quadrilha, o estudante Luiz Henrique Molição, confessou que hackeou, junto com o seu colega de faculdade Walter Delgatti Neto, as conversas de autoridades da República.
Em delação premiada assinada com a Polícia Federal e homologada pela Justiça, Molição contou que os ataques eram feitos por meio de um celular clandestino, entregue aos investigadores, e que o seu parceiro de crime tentou vender as mensagens roubadas, mas não teve sucesso. O colaborador ainda entregou o nome de mais três personagens envolvidos nos golpes. Um deles teria uma ligação com o ex-ministro Antonio Palocci.
Ao todo, foram alvos das investidas dos hackers mais de 80 figuras públicas. Entre as vítimas, estão: os filhos do presidente Jair Bolsonaro, ministros do governo, membros do Judiciário, parlamentares e celebridades. Em entrevista exclusiva a VEJA, Delgatti contou que teve acesso até mesmo a um suposto vídeo de uma execução de um jovem enviada ao general Walter Braga Netto, quando era interventor do Rio de Janeiro. “O rapaz matou, gravou e enviou a imagem ao general. Ele xingou. Abre aspas: ‘Usando o celular no combate. Está ficando louco?’. Foi isso que eu vi”, afirmou. Procurado, o Exército informou que o “assunto é de inteiro desconhecimento”.