Em entrevista ao Jornal Folha de S.Paulo, Marcelo Odebrecht reclamou da Operação Lava Jato, falou que é um absurdo condenar o superfaturamento e revelou que Lula pediu para que a Odebrecht fizesse um projeto em Cuba.Segundo Marcelo, a Odebrecht decidiu entrar em Cuba após um pedido de Lula: “Isso começou porque Lula estava visitando o país, passou por uma estrada deteriorada e disse que tinha condições de ajudar. Era para fazer a estrada exportando serviços do Brasil, para gerar emprego, renda e arrecadação, e ajudar Cuba a desenvolver o projeto.”
Marcelo afirma que Cuba foi o único país que o governo Lula teve uma maior ‘boa vontade’ em aprovar o envio de dinheiro do BNDES:
“O único país que a gente percebeu que houve uma boa vontade maior, uma atuação, um esforço maior do governo para ajudar a aprovar o crédito [do BNDES] foi na questão de Cuba.”Odebrecht também reclamou da Operação Lava Jato:“Do jeito que a Lava Jato foi divulgada, acabou parecendo que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, e que as empresas brasileiras exportavam corrupção. Não é verdade —nem uma coisa nem outra. Mas nossos competidores no mundo souberam tirar vantagem disso. Vários países culpam a Odebrecht. Essa é uma questão que vamos ter de superar.
“Em outro ponta da entrevista Marcelo reclamou da criminalização do superfaturamento:
“É um absurdo querer condenar o superfaturamento. Se a gente consegue vender melhor, é positivo. Mas isso normalmente não acontece, porque a gente acaba competindo com outras empresas internacionais, que trazem financiamento dos seus bancos de origem. O que ocorreu nos últimos anos aqui no Brasil foi um crime. Criminalizaram algo que nunca deveria ter sido criminalizado. Se houve um crime, foi na criminalização do financiamento à exportação. O auge disso foi na campanha de 2014, usaram muito isso. Mas também cheia de erros. Até a Dilma falava que dava dinheiro para Odebrecht.”
Marcelo também revelou o pedido do PT para que a empreiteira se comprometesse em ajudar na campanha do partido, caso uma linha de crédito para Angola fosse aprovada:
“Que eu saiba, no âmbito do BNDES nunca ocorreu nenhum ilícito. Existiu em uma única questão, que não tem relação direta com o BNDES: a renovação de uma linha de crédito do Brasil com a Angola. Houve naquele momento específico uma solicitação de apoio para campanha. Os pedidos foram feitos [pelos ex-ministros petistas] Paulo Bernardo e [Antonio] Palocci. A gente ia ser um dos principais beneficiários em uma negociação bilateral de um aumento de linha de crédito.Mas esse recurso saiu do nosso resultado e não representou nenhum prejuízo, nem para o país nem para o BNDES. Não teve nenhum envolvimento do BNDES nesse assunto e foi uma única vez. O que aconteceu foi o seguinte: houve o pedido para que a gente se comprometesse a dar apoio na campanha caso a renovação do financiamento saísse.Nós verificamos que alguns contratos já estavam encaminhados, apenas esperando essa liberação, e que havia resultado suficiente para bancar o pedido. Então, reduzimos nosso resultado para bancar esse pedido. O Brasil estava negociando com Angola a renovação da linha de crédito. O governo federal sabia que nós éramos os principais beneficiários, porque o maior exportador que havia para aquele país era a gente. Naturalmente, ficaríamos com uma boa parcela. No contexto dessa negociação, o governo brasileiro tentou assegurar que a gente reservaria um recurso para campanha, e a gente cedeu. Mas foi a única vez. Em mais de 20 anos de exportação de serviços e durante todo governo Lula, essa foi a única vez que houve uma solicitação de apoio financeiro por conta de financiamento.”