A deterioração da relação de Lula com o Congresso já começa a minar a indicação de Cristiano Zanin para a vaga aberta no Supremo após a aposentadoria de Ricardo Lewandowski. O presidente planejava anunciar o nome do advogado ao voltar da China, mas foi alertado de que não havia (e ainda não há) consenso no Senado para a sabatina. A resistência aumentou diante do enfraquecimento da posição do próprio petista, que vem falhando miseravelmente na articulação política. O governo sofreu só nesta semana uma série de derrotas: a derrubada do PL das Fake News e do decreto que alterou o Marco do Saneamento, além da confirmação de Ricardo Salles e Coronel Zucco, respectivamente, como relator e presidente da CPI do MST na Câmara. A comissão para investigar invasões de terra será instalada na semana que vem. Além dela, devem sair do papel a CPI das ONGs da Amazônia, no Senado, e a CPMI do 8 de janeiro, no Congresso. Como revelou a Jovem Pan ontem, deputados se articulam para derrubar também o decreto de Lula que restringiu a política de armas do governo de Jair Bolsonaro. Na avaliação de lideranças parlamentares, o presidente errou fragorosamente ao priorizar uma agenda de ataque e retaliação contra setores que têm grandes bancadas no Congresso. No caso do agro, a conivência em relação às invasões do MST ficou estampada no convite a João Pedro Stédile para integrar comitiva presidencial à China, e depois na nomeação de uma líder sem-terra (Ayala Ferreira) para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão. O ataque à bancada da bala veio com o cerco de Flávio Dino aos CACs e a tentativa de restringir a liberdade religiosa, com o PL 2630, foi a gota d’água para a frente parlamentar evangélica. E a pá de cal veio com os ataques permanentes ao Banco Central e a insistência em aumentar impostos. Com tudo isso, o ambiente azedou de vez para Zanin. Davi Alcolumbre, que preside a CCJ, já mandou recado ao Palácio de que agora não há clima para pautar uma eventual sabatina do advogado, cujo nome corre risco de ser rejeitado, o que aprofundaria a crise. Para piorar, Zanin não tem unanimidade — nem mesmo maioria — no Supremo e vem colhendo derrotas em seu périplo por Brasília, nas últimas semanas. A reportagem apurou que alguns senadores e integrantes do Judiciário têm sido orientados por interlocutores, tanto na oposição quanto no próprio governo, a ‘adiarem’ suas agendas com o autoproclamado candidato a ministro.
POLÍTICA: Derrotas de Lula no Congresso enfraquecem Zanin na disputa pelo STF
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