Disputa na Justiça pela guarda de Júlia Félix pode ter sido uma das razões que levaram a mãe a esfaquear a criança. Mulher teve a prisão preventiva decretada nesta sexta-feira (14/2)
Polícia Civil esteve no apartamento onde ocorreu o crime, em Vicente Pires, nesta sexta-feira (14/2). Familiares e testemunhas da vizinhança foram ouvidos(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
As investigações para elucidar a motivação por trás do homicídio de Júlia Felix de Moraes, 2 anos, continuam. Agentes da 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) apuram se Laryssa Yasmim Pires de Moraes, 21, mãe da criança, que confessou tê-la assassinado, cometeu o crime em razão da disputa de guarda que enfrentava. O pai da menina, Giuvan Felix, 25, assim como a avó materna, Luciana Pires, 37, travavam uma batalha judicial pelo direito à custódia. O homicídio ocorreu em uma quitinete de Vicente Pires. Em audiência, realizada nesta sexta-feira (14/2), a Justiça determinou a prisão preventiva da acusada. Com isso, ela não poderá responder ao processo em liberdade. Para desvendar o porquê de Laryssa ter matado a filha, os policiais ouviram parentes e vizinhos. Depoimentos de familiares e testemunhas da vizinhança serão coletados nos próximos dias. Até o momento, o delegado encarregado das investigações, Josué Ribeiro, indica que a principal suspeita é a disputa pela guarda da criança. “A gente sabia da intenção. Eles tinham tentado essa guarda lá pela Justiça de Goiás, em Padre Bernardo, mas sem êxito.” Segundo ele, a mãe de Laryssa acreditava que a filha não tinha condições de criar a bebê. “Era uma vida muito largada e sem compromisso. Ela judiava muito da criança”, disse. De acordo com o investigador, após o insucesso no estado vizinho, a avó recorreu à Justiça do Distrito Federal. “Ela falou com o pai que tentaria conseguir a guarda por aqui, e foi quando ele procurou a Defensoria Pública”, afirmou. Em nota oficial, o órgão informou ao Correio que processos do tipo correm em sigilo, e que não iria se manifestar sobre os fatos. O delegado, porém, informou que, como Laryssa Yasmin e Júlia Felix estavam estabelecidas na quitinete alugada por Giuvan, a Defensoria o teria alertado de que não seria possível pleitear a guarda da filha, justamente por ela morar com ele. Isso o teria motivado a pedir para que Laryssa deixasse a residência. “Faz a gente crer que seria um bom ingrediente, senão a motivação inteira para o crime. É como se ela (Laryssa) tivesse pensado: ‘Se eu não vou ter a guarda dela, ninguém mais vai ter’. Questionada durante depoimento na delegacia, no entanto, ela negou, alegando que não sabia o porquê de ter feito aquilo. A linha de investigação dialoga com depoimentos informais de conhecidos da família. Limatésio Eliodoro, 38 anos, é primo de Luciana, avó de Júlia, e conta que a prima chegou a dizer que a guarda pode ter motivado o crime. “A Laryssa fez isso porque queria a guarda da menina, e o pai e a avó também. Mas é uma tragédia que não dá para entender. A garota (Laryssa) tinha uma criação boa, uma mãe que sempre ajudava”, avaliou.
Tentativa de homicídio
Os relatos sobre o relacionamento de Laryssa com a filha são controversos. Enquanto alguns familiares e amigos a descrevem como uma boa mãe, outros a tratam como relapsa. O caseiro Elves Rodrigues de Oliveira, 30, tio paterno de Júlia, acusa a mulher de tentar assassinar a criança há cerca de seis meses, quando ainda morava em Padre Bernardo (GO). O suposto crime é investigado pela 12ª DP.Segundo o caseiro, a jovem dava banho na menina quando tentou afogá-la. O caso fez com que Elves aconselhasse Giuvan a lutar pela custódia. “Ela alegou que tudo não tinha passado de um acidente”, lembrou. “Ela era instável emocionalmente e fazia consumo de drogas com certa frequência. Agora que essa tragédia aconteceu, a gente consegue ver com mais clareza que o que ocorreu no passado não tinha nada de acidente.”De acordo com Elves, apesar de o irmão estar morando com Laryssa desde dezembro passado, eles não estavam juntos: “Ele aceitou ajudá-la por causa da Júlia. Aquela menina era o brilho dos olhos. Não tinha nada nesse mundo que ele não fazia por aquela criança”. Segundo ele, a mãe de Júlia estaria ali até se estabilizar em Brasília, após deixar Padre Bernardo, onde morava com a mãe.Segundo o delegado responsável pelo caso, os maus-tratos da mãe em relação à criança eram perceptíveis. “Parte da família acredita que (o acidente na banheira) foi intencional, porque ela tinha uma personalidade muito ruim em relação à filha”, descreveu. “Apesar disso, aparentemente, Júlia amava muito a mãe. Queria ficar o tempo todo com ela”, complementou. O Correio procurou o Conselho Tutelar de Vicente Pires para verificar registros de maus-tratos por parte de Laryssa Yasmin à filha. No entanto, nenhuma ocorrência foi registrada no órgão. (correiobraziliense)