O nível do lago Guaíba, em Porto Alegre, voltou a subir acima dos 4 metros nesta sexta-feira (24) devido às chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul na quinta-feira (23) – essa é a primeira vez que o rio fica acima da marca dos 4 metros desde terça-feira (21). Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a cota do Guaíba estava em 4,03 metros, medida às 13h de sexta-feira. O nível havia ultrapassado os quatro metros na noite do dia 21 e estava em queda, atingindo o valor mais baixo de 3,82 metros no dia 22. Com as enchentes recentes, Porto Alegre se transformou em um verdadeiro lixão a céu aberto. Montanhas de descartes de móveis, alimentos e outros bens destruídos pelas chuvas se espalham pela cidade. Moradores relatam mau cheiro, presença de restos mortais de animais, insetos e animais peçonhentos. A lama e o lodo cobrem tudo o que foi inundado, enquanto os garis já retiraram mil toneladas de resíduos apenas na última semana.
RS – Algumas áreas do Centro Histórico de Porto Alegre permanecem alagadas nesta terça-feira (21), mesmo após 20 dias das águas do Guaíba invadirem a cidade │EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Com vários pontos da cidade ainda submersos, seis bairros permanecem inacessíveis. A prefeitura fechou as comportas no muro do Cais Mauá para evitar mais inundações no centro da capital, utilizando sacos de areia e cimento para conter a água. Até quinta, 7,3 mil toneladas de resíduos haviam sido retiradas das ruas, sendo alguns deles: móveis estragados, lodo acumulado e varrição, informou a prefeitura. Segundo Carlos Alberto Hundertmarke, o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a orientação é que os moradores continuem deixando o lixo do lado de fora das casas, para que sejam recolhidos pela equipe responsável. Nesta sexta, 15 pontos da cidade estavam listados para receber a operação limpeza, sendo elas:
- Menino Deus
- Cidade Baixa
- Centro Histórico
- Rua Voluntários da Pátria / Centro
- Avenida Padre Cacique / Menino Deu
- Avenida Assis Brasil / Sarandi
- Avenida Bernardino Silveira Amorim/Rubem Berta
- São Geraldo
- Navegantes
- Vila Elizabeth/Sarandi
- Vila Minuano/Sarandi
- Avenida Tramandaí/Ipanema
- Avenida Oscar Pereira/Cascata
- Belém Novo
- Lami
Segundo a Defesa Civil do estado, a previsão para os próximos dias na região é de mais chuva e queda de temperatura nos próximos dias. Nesta sexta, com o solo encharcado, a chuva e o sistema de escoamento de água praticamente colapsado, Porto Alegre emitiu um alerta para alto risco de deslizamentos, processos erosivos e rolamento de blocos em áreas suscetíveis. O alerta abrange trechos de 24 bairros das zonas norte, leste e sul, como Sarandi, Cristal, Lomba do Pinheiro e Mario Quintana. No sábado (25), a chegada de um anticiclone migratório deve provocar uma queda ainda mais acentuada da temperatura, com possibilidade de formação de geada nas regiões sul, campanha e fronteira oeste. No domingo (26), a previsão é de chuvas mais moderadas sobre as regiões da serra, metropolitana e litoral norte. O sistema de chuvas deve enfraquecer na terça-feira (28), concentrando-se na região da serra. A temperatura deve cair em grande parte do estado, mas a previsão é que volte a subir na quarta-feira (29), com tempo estável em todo o estado.
Alerta hidrológico e geológico
Após a chuva intensa de quinta-feira, o Rio Grande do Sul está em alerta hidrológico e geológico para novos deslizamentos, elevação de rios e avanço das inundações. A situação gerou a evacuação e a recomendação da saída da população em municípios do interior, como em áreas de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, e Pelotas, na região sul. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um alerta de possibilidade “muita alta” para inundações diante da elevação do rios e previsão de acumulados de até 150 mm de chuva. Já o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou todo o Estado em alerta para chuva intensa, assim como toda a parte costeira em alerta de “perigo” para ventos fortes. A maior preocupação é com as regiões mais castigadas com os eventos extremos desde o fim de abril. Entre elas, estão o Vale do Taquari, a Serra Gaúcha, a Grande Porto Alegre e parte da região sul, no entorno da Lagoa dos Patos.
Ao menos, 145,8 mil imóveis estão sem energia elétrica, segundo o Governo do Estado. Após semanas de problemas, o fornecimento de água foi restabelecido em grande parte dos municípios. O balanço mais recente aponta 1.063 escolas impactadas (o que inclui aquelas que viraram abrigos, estão com problemas de acesso e foram inundadas, dentre outros problemas). Na capital, não há previsão para a reabertura do aeroporto, da rodoviária e das estações do trem metropolitano. As viagens terrestres para fora do Estado estão sendo direcionadas para Osório, no litoral norte, enquanto uma ação de malha aérea emergencial aumentou o volume de voos em aeroportos do interior gaúcho e de Santa Catarina.
Segundo a Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas foram diretamente impactadas, das quais 581,6 estão desalojadas e 63,9 mil em abrigos. O balanço parcial aponta 163 mortes confirmadas, além de 65 desaparecidos. Ao todo, 469 dos 497 municípios gaúchos foram afetados desde o início da chuva extrema, das enchentes e dos deslizamentos, que começaram no fim de abril.
*Com informações do Estadão Conteúdo/JP