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OPINIÃO ESTADÃO – Integrar agropecuária e floresta

por Ornan Serapião
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O Brasil, dono da maior reserva florestal do planeta e um dos maiores produtores agropecuários do mundo, está em condições de mostrar que esses interesses podem cooperar para gerar riquezas socioeconômicas e conservar riquezas naturais

Nas últimas décadas o agronegócio brasileiro tem se expandido vigorosamente. Em 1970, a produção de arroz, feijão, milho e soja foi de 27 milhões de toneladas. Em 2012, foram 160 milhões – um crescimento de 583%. No mesmo período, contudo, propagava-se por todo o mundo a consciência ambiental, e hoje não poucas pessoas creem que a produção agropecuária é antagônica à preservação do meio ambiente. O Brasil, dono da maior reserva florestal do planeta e um dos maiores produtores agropecuários do mundo, está em condições de mostrar que esses interesses não só não são conflitantes, como podem cooperar para, a um só tempo, gerar riquezas socioeconômicas e conservar riquezas naturais. Para tanto, um mecanismo importante pode ser o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).O modelo “busca integrar sistemas de produção de alimentos, fibras, energia e produtos madeireiros e não madeireiros, realizados na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, para otimizar os ciclos biológicos de plantas e animais, insumos e seus respectivos resíduos”, explica a Embrapa. A sinergia entre lavoura e pastagem não só permite que o solo seja utilizado todo o ano, como recupera áreas alteradas ou degradadas. Isso contribui para a manutenção da cobertura florestal, além de fomentar o desenvolvimento de tecnologia, a eficiência no uso de máquinas e gerar empregos no meio rural.Conforme mostrou reportagem do Estado, uma das fazendas onde o modelo foi aplicado produz eucalipto, soja e milho na safra de verão; milho, sorgo e girassol na colheita de inverno; além de bovinos de corte. A produtora relata que a propriedade foi assumida em 2006, atolada em dívidas e com os solos degradados. Com o modelo, a agricultura recuperou gradualmente a pastagem e hoje a subsidia. Além do aumento da produção e dos lucros, estima-se que, comparada a sistemas convencionais, a propriedade reduza em 55% as emissões de gases de efeito estufa, além de sequestrar e fixar 5 toneladas de gás carbônico equivalente por hectare/ano. Segundo o IBGE, o sistema de integração, que em 2005 era aplicado em 2 milhões de hectares, cobre hoje 15 milhões. Com isso, o Brasil praticamente alcançou a meta para redução das emissões de gases de efeito estufa. Os pesquisadores da Embrapa estimam que até 2030 será possível cobrir mais 20 milhões de hectares, e isso exclusivamente em áreas de pastagens degradadas ou pouco produtivas, com desmatamento zero, portanto.O sucesso desse empreendimento dependerá da intensificação da sinergia entre produtores rurais, universidades e institutos de pesquisa que compõem o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, a fim de produzir estudos mais complexos e abrangentes, que deem conta das possibilidades de integração nos diversos biomas brasileiros. Também o poder público, segundo a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta sancionada em 2013, tem entre suas atribuições definir planos de ação regional e nacional, com a participação das comunidades locais, e estimular a adoção de certificação dos produtos pecuários, agrícolas e florestais. Segundo a Embrapa, serão decisivas políticas públicas de incentivo, como: aumento de crédito, diminuição de taxa de juros, ampliação do período de carência, garantia de preços mínimos, redução da carga fiscal sobre produtos e insumos, seguro agrícola amplo e eficiente, assim como remuneração por serviços ambientais.Intensificar a produção agropecuária conservando os recursos naturais não é uma utopia, mas a chave para o desenvolvimento de uma economia sustentável. O Brasil tem essa chave nas mãos e só depende dele abrir as portas para o futuro. O País tem condições de estar na vanguarda daqueles que buscam eliminar a fome no mundo e na dos que buscam preservar as suas riquezas naturais, gerando, ao mesmo tempo, empregos e renda para a sua população, e conhecimentos e tecnologia para outros povos.

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