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OPINIÃO DO ESTADÃO – A pandemia na indústria

por Ornan Serapião
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Em queda livre, a atividade industrial atingiu em abril novos recordes negativos, com a produção, o emprego e o uso da capacidade nos menores níveis das séries históricas, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pisos históricos já haviam sido atingidos em março, quando o setor foi atingido pelos primeiros impactos econômicos da pandemia, mas aquele foi apenas o começo de um desastre sem precedente. Essa nova sondagem reforça as projeções do mercado e de economistas do governo. A economia brasileira poderá contrair-se mais que 5% neste ano, admitiu o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. A última estimativa apresentada oficialmente pelo Ministério da Economia, poucos dias antes, indicava uma redução de 4,7%.

No mercado, a mediana das estimativas captadas na pesquisa Focus de 15 de maio apontou para 2020 um Produto Interno Bruto (PIB) 5,12% menor que o do ano anterior. Alguns bancos têm divulgado projeções mais sinistras, com quedas na faixa de 6% a 9%. Em sua última previsão, apresentada na primeira quinzena de abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já previa uma contração de 5,3% para o Brasil.

A perda será menor na indústria que no conjunto da economia, segundo cálculo aparentemente estranho do mercado. A produção industrial encolherá 3,68% em 2020, pela mediana das projeções da pesquisa Focus do dia 15. Quatro semanas antes ainda se apontava uma contração de 2,25%. Mas esses números, é importante lembrar, são calculados com base em um resultado já muito ruim. Em 2019 o produto industrial foi 1,1% menor que em 2018, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em seu primeiro ano – e no começo do segundo – o governo do presidente Jair Bolsonaro fez muito pouco, ou quase nada, para conter a deterioração da indústria brasileira, acelerada a partir do último governo petista. O presidente só exibiu alguma preocupação com a atividade econômica, a produção industrial e o emprego quando a nova crise, sensível a partir de março, surgiu como um possível entrave a suas ambições eleitorais e a seus interesses pessoais e familiares. Até esse momento, suas prioridades haviam ficado muito longe das questões econômicas e dos problemas de emprego.

Agora, se o presidente quiser de fato dedicar-se ao assunto, poderá começar pela nova sondagem da CNI. Em abril, segundo o relatório, o uso da capacidade instalada ficou em 49%, o menor nível desde janeiro de 2011. Em média, portanto, o setor industrial usou no mês passado menos de metade do potencial de suas máquinas e equipamentos, para citar só os meios físicos mais importantes. Em fevereiro, antes do isolamento e da redução dos negócios, a utilização ainda estava em 68%. Em março caiu para 58% e despencou para 49% quando o impacto da crise foi mais forte.

O índice de evolução de produção despencou para 26 pontos, bem abaixo da fronteira entre queda e crescimento, situada no nível 50. O indicador do emprego caiu para 38,2 pontos, também o menor nível da série iniciada em 2011.
Embora muito ruins, os números gerais da economia no primeiro trimestre parecem bem menos assustadores que os prenunciados a partir de abril. No período de janeiro a março a atividade econômica foi 1,2% mais baixa que nos três meses finais de 2019, segundo o Monitor do PIB elaborado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esse dado ainda é atenuado pelo desempenho em janeiro e fevereiro. A grande mudança ocorreu em março, com uma queda mensal de 5,3%. Esse tombo é o maior da série do Monitor, iniciada em 2000. A comparação interanual ainda mostrou um avanço muito modesto, com um PIB 0,1% maior que do primeiro trimestre de 2019.

Os números oficiais do PIB de janeiro a março devem ser publicados no dia 29 pelo IBGE. Mas as primeiras estimativas indicam um primeiro trimestre ruim e antecipam um péssimo resultado anual. Os fatos ainda poderão ser piores que as previsões se o presidente Jair Bolsonaro continuar produzindo tensão política e insegurança econômica.

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