Era uma manhã fria de inverno!
Num lugarejo, ao pé da serra, ainda coberto pela neblina, um jardineiro, com uma enorme tesoura na mão, entra pelo portão de um imenso jardim e começa a fazer a poda das plantas.
A roseira, era a que mais sofria, sua poda era sempre mais drástica, afinal, como rainha de todas as flores, ela precisava ganhar mais força para continuar merecendo as honrarias de sua majestade!
À princípio, o jardineiro parecia impiedoso, não poupando sequer, os galhos finos que ainda tinham algumas flores miúdas. No seu profundo conhecimento, ele sabia, que a poda, apesar de doída, era necessária, pois somente com a retirada dos excessos, ou seja, dos galhos compridos e finos, as plantas ganhariam mais força para entrarem mais belas na primavera!
Conhecedor do segredo de cada flor, aquele jardineiro, caminha por entre os canteiros com muito cuidado para não despertar as begônias, os lírios, as palmas e muitas outras plantas que ainda adormeciam durante o inverno…
Bem próximo à fonte, onde brotava a água que irrigava todo o jardim, um lírio, recebendo os respingos da água que batia sobre as pedras, conseguiu vencer as durezas do inverno, brotando antes da primavera. Com o seu perfume suave e suas pétalas douradas, aquele lírio, ganhava mais brilho, ao receber os raios do sol refletidos nas gotinhas do orvalho!
Contemplando tamanha beleza, o jardineiro imaginou aquele lírio enfeitando e perfumando algum lugar sombrio! Lembrou logo, das salas sombrias de um imenso palácio, que ficava bem no topo da serra… No dia seguinte, bem de manhãzinha, com a ajuda de um camponês, ele retirou o lírio com muito cuidado para não ferir suas raízes e o plantou num belo vaso grande. Contratou uma linda carruagem e ao cair da tarde, pouco antes do pôr do sol, lá se foi o lírio de pétalas douradas, pra sua nova morada. Foi uma tristeza geral no jardim, as poucas flores que ainda resistiam as durezas do inverno, não conseguiram conter as lágrimas vendo a partida do amigo…
Lá no palácio, o lírio foi colocado bem próximo à janela de onde ele poderia receber a luz do sol, todas as manhãs através das vidraças! Cuidado não lhe faltava, ele recebia água na medida certa, estava protegido do calor forte do sol, das chuvas contínuas, das picadas dos insetos. Mas longe das outras flores, aquele lírio não sentia feliz, lembrava do abraço gostoso das palmas quando o vento as soprava forte, das conversas ingênuas das margaridas, dos toques suaves das borboletas das reverencias dos beija-flores e até mesmo do zumbido das abelhas! Movido por um grande respeito a natureza, aquele jardineiro, devolveu ao lírio, a alegria de viver, de poder estar no seu verdadeiro lugar, misturando suas cores com as cores das outras flores…
Era uma vez um lírio de pétalas douradas, que só queria ser feliz…
Texto de Olivia Coutinho