Mais de 100 pessoas morreram e 760 ficaram feridas nesta quinta-feira, 29, em um ataque de Israel contra um local onde centenas de civis aguardavam a distribuição de ajuda humanitária na Cidade de Gaza, segundo denunciou o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas. “O número de mortos no massacre da rua Al Rashid é de 104, além de 760 feridos”, afirmou o porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, Ashraf Al Qudra, em um comunicado. O Exercito israelense se manifetsou sobre o ocorrido e informou que os tiros foram disprados depois que os soldados se sentiram “ameaçados”, mas negaram a responsabilidade pelas mortes. Eles informaram que várias pessoas morreram pisoteadas “em meio a empurrões e pisoteios”, depois de cercarem os caminhões com ajuda humanitária e iniciarem os saques.
O governo de Gaza, por sua vez, tem uma visão diferente do ocorrido. “O ataque foi premeditado e intencional, no contexto do genocídio e da limpeza étnica do povo da Faixa de Gaza. O Exército de ocupação sabia que estas vítimas tinham vindo para esta área para obter alimentos e ajuda, mas matou-as a sangue frio”, denunciou o governo de Gaza em comunicado. A guerra entre Israel e Hamas, que já deixou mais de 30 mil mortos e 70.400 feridos, dos quais 70% são mulheres e crianças, segundo informou o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo grupo islâmico Hamas, completa cinco meses no próximo dia 7 de março, sem perspectiva de um cessar-fogo em vista. Os número não incluem as vítimas do ataque desta quinta.
Diante deste novo ocorrido, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, pediu a suspensão da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza por “colocar em perigo” a vida dos soldados. “Hoje demonstrou que a transferência de ajuda humanitária para Gaza não é só uma loucura enquanto os nossos sequestrados são presos na Faixa em condições precárias, mas também colocam em perigo os soldados”, escreveu Ben Gvir na rede social X. “Esta é outra razão clara pela qual devemos parar de transferir esta ajuda, que na verdade é uma ajuda que prejudica os soldados e dá ajuda ao Hamas”, acrescentou o ministro.
O Egito e a Jordânia, vizinhos de Israel, se manifestaram sobre o ocorrido e condenaram o ataque “desumano” dos israelenses. O Ministério das Relações Exteriores egípcio afirmou em um comunicado que “o ataque contra cidadãos pacíficos que corriam para obter sua parte na ajuda humanitária é um crime vergonhoso, uma violação flagrante das disposições do direito internacional e um desrespeito pelo valor do ser humano”. Da mesma forma, instou a comunidade internacional e o Conselho de Segurança da ONU, especialmente os Estados Unidos – por seu uso do veto para obstruir resoluções que pedem um cessar-fogo -, a “assumir a responsabilidade moral, humanitária e legal de acabar com a guerra israelense na Faixa”.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Jordânia qualificou o ataque como “brutal” e lamentou “a ausência de uma posição internacional para deter a guerra e o massacre humanitário que Israel está cometendo”. Neste sentido, renovou seu apelo à comunidade internacional para que forneça proteção aos habitantes de Gaza e intensifique os esforços para alcançar um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza para assegurar a vida dos civis e a chegada de assistência humanitária ao enclave palestino.
Esse ataque acontece a duas semanas do início do mês sagrado muçulmano do Ramadã. Este atual conflito é o mais violento dos cinco já travados entre Israel e Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007. O mês sagrado muçulmano do Ramadã, mês de jejum muçulmano que começa nos dias 10 e 11 de março, dependendo do país, e até o momento não há um sinal sobre um possível cessar-fogo entre as partes.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tinha chegado a informar que na próxima segunda-feira, 4, um acordo poderia ser formado para o fim das hostilidades, contudo, nesta quinta, ele voltou atrás e disse que um cessar-fogo entre Israel e o grupo islamista palestino Hamas em Gaza “provavelmente” não será alcançado até segunda. Biden também se manifestou sobre o ocorrido nesta quinta e disse estar “versões contraditórias” de disparos em um local da Faixa de Gaza onde estava sendo distribuída ajuda humanitária.
“Estamos verificando isso agora mesmo. Há duas versões contraditórias do que aconteceu, ainda não tenho uma resposta”, disse aos jornalistas antes de viajar para a fronteira com o México. Questionado se estava preocupado que isso complicasse as negociações para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, Biden respondeu: “Sei que será assim”.
A ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que 2,2 milhões de pessoas, ou seja, a grande maioria da população, correm o risco de morrer de fome na Faixa de Gaza, especialmente no norte, onde a destruição, os combates e os saques praticamente impossibilitam a entrega de ajuda humanitária. Em toda Faixa de Gaza, a população civil está bloqueada entre combates e bombardeios diários, que destruíram bairros inteiros e forçaram a fuga de milhares de famílias.
As necessidades humanitárias em Gaza são “ilimitadas”, afirmou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA). “A fome se aproxima. Os hospitais foram transformados em campos de batalha. Um milhão de crianças enfrentam traumas diários”, destacou a agência. A guerra começou em 7 de outubro com um ataque sem precedentes de milicianos do Hamas, que invadiram o sul de Israel e assassinaram pelo menos 1.200 pessoas, a maioria civis.
Também sequestraram mais de 250 pessoas, que foram levadas para a Faixa de Gaza. As autoridades israelenses calculam que 130 continuam retidas no território palestino, incluindo 31 que o governo acredita que foram mortas. Uma trégua em novembro permitiu a libertação de 105 reféns em troca de 240 prisioneiros palestinos. Em represália, Israel prometeu destruir o Hamas, considerado um grupo terrorista por Estados Unidos e União Europeia.
JP com informações da agências internacionais