O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seus dois filhos, começaram a ser julgados nesta segunda-feira, 2, por fraude financeira em Nova York. Eles são acusados de terem inflacionado durante anos o valor dos seus ativos imobiliários. Cumprindo com o que havia informado no domingo à noite em sua na sua plataforma Truth Social, ele compareceu perante o tribunal de Nova York. Trump chamou o julgamento de “simulacro” de justiça e disse que parecia “um show de horror”. “Todo este caso é uma farsa!!!”, escreveu no domingo em sua rede social. O republicano chegou ao tribunal em meio a um grande dispositivo de segurança. Saiu do carro sozinho e caminhou, de cabeça baixa, seguido a distância pelos membros de sua equipe de assessores.
“A lei é, ao mesmo tempo, poderosa e frágil. Hoje, no tribunal, embasaremos nosso caso com provas”, disse à imprensa a procuradora Letitia James, acrescentando que “a Justiça prevalecerá”. Trump sempre rejeitou as acusações e intensificou os seus ataques contra a procuradora Letitia James, uma democrata negra que ele chamou de “racista”, e contra o juiz Engoron, a quem descreveu como “perturbado”. O julgamento desta segunda, que prenuncia uma maratona judicial para o favorito dos republicanos nas eleições presidenciais de 2024, promete ser muito técnico e espera-se que dezenas de testemunhas deponham, incluindo três dos filhos de Trump, Eric, Donald Jr e Ivanka.
Esta última foi inicialmente alvo da denúncia, mas acabou não sendo indiciada. Também devem depor o ex-diretor financeiro da Trump Organization, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado por fraude fiscal em outro caso contra o grupo. As testemunhas incluem também o ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, que se tornou um dos seus inimigos declarados, além de funcionários dos bancos credores e da empresa de contabilidade Mazars, que parou de trabalhar com a Trump Organization em 2021.
Desde a semana passada este julgamento assumiu de repente uma importância considerável na semana passada. O juiz Arthur Engoron decidiu que a “fraude contínua” foi comprovada e que o gabinete da Procuradoria-Geral do estado de Nova York já tinha provado que Donald Trump e os diretores do seu grupo haviam “supervalorizado” os seus ativos entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões entre 2014 e 2021 (cerca de R$ 2,1 bilhões e R$ 12,2 bilhões de reais nas respectivas cotações da época). O juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no estado de Nova York de Donald Trump e de dois dos seus filhos, Eric Trump e Donald Trump Jr, vice-presidentes executivos da Trump Organization, além do confisco das empresas que são alvo do processo, que serão confiadas aos liquidatários.
O republicano, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e nos cassinos na década de 1980 e prometeu administrar os Estados Unidos como as suas empresas, pode perder o controle de vários edifícios emblemáticos do seu grupo, como a Trump Tower, na 5ª Avenida de Manhattan, caso sanções sejam implementadas. As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre US$ 200 e 300 milhões (R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, cotação atual). A luxuosa residência da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê. A procuradora pede ainda o reconhecimento de outras violações da legislação financeira e uma multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão, na cotação atual).
Embora não possa ser condenado à prisão por esta acusação, o julgamento será um prelúdio de uma série de processos judiciais que poderão prejudicar a sua campanha pela indicação republicana. O bilionário é acusado criminalmente em quatro casos diferentes, o que até o momento não afetou sua popularidade entre as bases republicanas. Em 4 de março, Trump deve comparecer a um tribunal em Washington para responder às acusações de tentativa de reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden. Em seguida, ele comparecerá novamente ao tribunal em Nova York por fraude contábil e, depois, na Flórida, pela gestão negligente de documentos confidenciais após deixar a presidência.
(Com informações da AFP/JP)