Olhe, meu amado leitor, eu boto meu dedo mindinho na brasa morna de que você conhece uma figura boazinha, que agrada todo mundo, que não se posiciona para nada, que vive em cima do muro, que acredita não ter nenhum talento, que evita ser confrontada, que nunca se coloca a serviço, que fala que não faz nada bem. Picolé de chuchu, sabe? E eu espero, do fundo do meu coração, que você não seja essa pessoa.
Quando você ouve suas falas, seu discurso tenta, ao máximo, passar a ideia de humildade, de saber seu lugar e reconhecer suas limitações, um quê de resiliência com um toque suave de conformismo. Ela acredita, fielmente, que desprezando a si mesma está sendo humilde. No fundo, meu caríssimo leitor, o que reside ali é uma verdadeira preguiça.
Preguiça de se conhecer, preguiça de se desafiar, preguiça de aprender, preguiça de servir, preguiça de se colocar nesse mundão de meu Deus. Todo mundo tem algo a oferecer, a trocar, a mostrar, a ensinar. Ninguém passa por essa vida sem aprender nada; o que existe são pessoas que não se comprometem.
Por trás da máscara da humildade, da falsa modéstia se esconde uma pessoa que não quer ser generosa, que não quer doar seus talentos ao mundo; alguém que acredita que os outros estão errados quando reconhecem suas capacidades e habilidades, que é vaidade saber – e dizer – o que se faz de bom e bem. Uma pessoa preguiçosa porque não quer fazer o mínimo esforço de servir, de ser útil, de construir um legado, de deixar uma marca positiva por onde passa. Preguiçosa por não querer ter uma vida de valores e que sirva de inspiração para quem a cerca.
Se você deseja ser uma pessoa madura, confiável, comprometida, é fundamental deixar cair por terra essa máscara da falsa modéstia e dizer, a plenos pulmões, que você é bom no que faz e que as pessoas podem contar contigo. Mas, para começo de conversa, você é bom em quê? Quais são seus talentos?
Examine sua consciência, reflita sobre isso enquanto toma um gole da sua água. Eu vou tomar um pouco da minha aqui também antes de seguir com o raciocínio. Pegue na minha mão e vamos.
Repare bem, meu amado ser que lê estas linhas aí do outro lado, quando seus amigos ou familiares procuram por você, o que eles geralmente querem? O que eles buscam em você? O que você faz para deixar as relações mais leves e gostosas? Cozinha para as pessoas que ama, canta, conta piada, conta caso, é um bom ouvinte? Você se interessa pelas pessoas, pelas suas vidas e histórias? Sem querer saber de fofoca, mas com o intuito genuíno de conhecer aquele universo que se apresenta à sua frente. E as pessoas se interessam em conhecer você? Você está, verdadeiramente, com a postura aberta para isso?
E agora, num passe de mágica, vamos juntar as duas pontas dessa linha! Você percebeu, com as perguntas acima, o mundaréu de coisas que você pode oferecer? Onde seus talentos, facilidades, jeitinho maroto, características mais marcantes podem encaixar nas necessidades das pessoas que te cercam?
Talvez você goste de fazer alguma coisa que possa ajudar um amigo seu em um momento de dificuldade, ou o seu jeito de lidar com as coisas contribua para deixar seu ambiente de trabalho mais gostoso, mais leve, menos endurecido.
E aí o negócio agora é brincar de Lego, conhece? Aquele brinquedo que vai encaixando as peças para formar os desenhos? Pois então. Agora é encontrar em que ponto sua habilidade, seu talento encaixa no que o outro precisa e doá-los. Colocar no mundo.
Deixa de preguiça e mãos à obra!
* Psicanalista e Psicoterapeuta Instagram: @maribenedito