Antes de falir, Lyra gerou milhares de empregos em Alagoas e Minas Gerais
Industrial João Lyra marcou a história política e econômica de Alagoas. Foto: Câmara dos Deputados/Arquivo
Morreu aos 90 anos, nesta quinta-feira (12), o industrial e ex-deputado federal João Lyra, que marcou a história política e econômica de Alagoas, ao fundar a Usina Laginha e conduzir durante décadas o grupo agroindustrial batizado com seu nome, que gerou milhares de empregos e chegou a ser base significativa da economia do estado.
Ex-integrante do PTB e do PSD, João Lyra internou-se no dia 23 de julho e deu entrada três dias depois, na UTI do Hospital MedRadius, para tratar do agravamento de uma pneumonia não curada, decorrente da contaminação pela covid-19, após uma cirurgia de apendicite a que se submeteu, em junho.
O ex-deputado que nasceu no Recife (PE) em 17 de junho de 1931 era bacharel em Direito, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). E gastou parte considerável de sua fortuna em 2006, quando tentou governar Alagoas em uma campanha eleitoral realizada à época em que chegou a ser listado como o parlamentar mais rico do Brasil.
Sua trajetória política iniciou em 1982, ao se lançar pelo Partido Democrático Social (PDS) na disputa pelo Senado como suplente de Guilherme Palmeira, vitorioso com 259.581 votos. João Lyra assumiu o mandato de senador em 2 de janeiro de 1989, até 1991, substituindo o titular, por ocasião da nomeação de Palmeira como prefeito de Maceió.
A carreira política retomada ao ser eleito deputado federal pelo PTB em 2002, foi marcada pela generosidade com aliados políticos, com relatos de distribuição de carros a apoiadores, e pela realização de showmícios com artistas de renome nacional como Zezé di Camargo e Luciano e Jorge de Altinho.
Após uma sucessão histórica de incentivos governamentais, as crises no setor sucroenergético e as enchentes que destruíram a matriz de seu conglomerado em 2010 levaram o industrial a ver a falência atingir o Grupo João Lyra, logo após sua curta carreira na política. A Justiça assumiu a gestão de usinas de açúcar e álcool que haviam expandido de Alagoas para Minas Gerais. O processo de recuperação judicial veio para dar conta de uma dívida de cerca de R$ 2 bilhões com cerca de 40 mil credores e trabalhadores alagoanos e mineiros. Caso retratado em reportagem especial do Diário do Poder, em novembro de 2016.
Isolamento após o poder
Após décadas vivendo cercado de apoiadores nas épocas de fartura, João Lyra passou seus últimos dias longe do poder do mundo empresarial e político, morando em um apartamento na Ponta Verde, área mais nobre de Maceió, sob cuidados de familiares. Ele deixa seis filhos: Guilherme Lyra, Cristina Lyra, Antônio Lyra, Ricardo Lyra; além da ex-vice-prefeita de Maceió, Lourdinha Lyra, e de Thereza Collor, que se aventuraram na política partidária.
O fim da carreira política e empresarial também lhe impôs desafios como ter se tornado réu em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2014, pela acusação de submeter 53 pessoas a trabalho análogo à escravidão, em uma de suas usinas alagoanas.
Em 2019, João Lyra chegou a ser citado em denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) como beneficiário de crime de peculato atribuído ao senador e ex-presidente Fernando Collor (PROS-AL), acusado de atuar para que a BR Distribuidora firmasse contratos de R$ 240 milhões para que a Laginha Agro Industrial, se recuperasse da destruição de sua usina atingida pela enchente de 2010, em União dos Palmares. Collor é tio do neto de João Lyra, Fernando Lyra Collor, filho do falecido Pedro Collor com Thereza Collor.
Uma das últimas aparições de João Lyra foi filmada no ano passado, quando completou 89 anos e recebeu os parabéns de um grupo de amigos que se reuniram em frente ao seu prédio para celebrar a data. Assista ao registro divulgado no canal de José Fernando, no Youtube: