Cantora fala ao podcast G1 Ouviu sobre nova faixa, primeira após estouro em 2019. Música nasceu de guitarra ‘punk’, desabafo contra fofocas, virou dueto com rapper e indica álbum ‘confiante’.
Por Rodrigo Ortega, G1
Em 2019, até a própria Lizzo ficou chocada quando estourou com “Truth hurts” e virou a adversária mais divertida dos padrões corporais e da monotonia musical no pop. Dois anos depois ela volta com a música “Rumors”, que troca o fator surpresa pela expectativa: como será a nova era de Lizzo?
No podcast G1 Ouviu, a cantora fala sobre a música que sai nessa sexta (13). Lizzo diz que “Rumors” captura o sentimento de reencontros pós-quarentena com voz de Cardi B e ganhou letra que poderia ser um “desabafo no Twitter” contra fofocas, mas foi edificada em formato musical.
Ouça abaixo e leia a entrevista a seguir:
G1 – A última vez que milhares de brasileiros te viram foi fazendo uma bela versão de ‘A change is gonna come’, do Sam Cooke, na live do Global Citizen, em 2020, direto da sua casa. Como foram aqueles dias de quarentena para você?
Lizzo – Foram quietos e com muita ansiedade. Fiquei muito em casa, claro, e tentava ignorar a mim mesma. E isso não estava rolando para mim. Acho que todas as pessoas ficaram sentadas em casa encarando a si mesmas, encarando o mundo, então começamos a aprender sobre nós mesmos. Mas eu também queria levar música nova para o mundo e fazer as pessoas felizes.
G1 – Mas como “Rumors”, que é uma música tão divertida, saiu desses tempos de tanta ansiedade?
Lizzo – Pois é. Eu comecei gravando a mim mesma, em casa, nos primeiros meses de quarentena. E passei o verão todo na minha casa, até que a gente pudesse ir para o estúdio de um jeito seguro. E eu digo seguro de verdade, com medidas extremas.
Mas quando você chega lá, e vê pessoas que não encontrava havia meses, vira quase uma festa mesmo. E as pessoas falavam: ‘Estou tão feliz de te ver, saber que você está seguro, com saúde’. Então foi meio fácil criar um ambiente divertido no estúdio.
Mesmo que tivessem só duas ou três pessoas, era uma festa, porque, sabe, a gente tem que celebrar cada dia. Se essa pandemia nos ensinou alguma coisa, é que cada dia é precioso.
G1 – Então esse som que a gente ouve na música é o de amigos se reencontrando.
Lizzo – Ah, que fofo, sim. São acordes divertidos, guitarras, uma coisa muito Prince, muito ‘Purple rain’, baby.
G1 – E quando você teve a ideia de falar de fofocas (tema de ‘Rumors’, em que Lizzo ironiza boatos e críticas sobre ela)?
Lizzo – Não foi uma coisa premeditada. Foi dessas coisas que rolam no momento. Acho que eu lidei com muitas críticas a mim. E sempre tive que ser maior que os outros e não dizer nada, não me defender. Acho que tive a chance de colocar tudo isso na música.
Foi muito divertido. Eu me senti vingada, pude sentar e dizer tudo que eu diria em um desabafo no Twitter, só que numa música. Fiz tudo em uma noite só.
Lizzo canta no Brit Awards 2020 em Londres — Foto: Joel C Ryan/Invision/AP
G1 – E como foi essa noite? O que você estava fazendo, bebendo um vinho, talvez?
Lizzo – (Risos) Não, a gente estava no estúdio, não estava bebendo… (tenta lembrar). Não, isso mesmo, a gente não estava bebendo. Porque eu estava tomando um monte de sucos detox nessa época. Então eu não estava tomando álcool. Eu estava tentando equilibrar meu corpo. A gente estava no estúdio, eu estava provavelmente comendo castanhas de caju naquela noite em Los Angeles.
G1 – O mundo inteiro estava esperando para saber o que você ia fazer depois do grande estouro. Deve ser uma coisa tensa. Como você conseguiu se soltar assim com tanta expectativa nas suas costas?
Lizzo – Eu deixo a gravadora se preocupar com isso. Decidi ser só uma artista. Faço música há um tempão. Não é que eu recebi um monte de músicas de outras pessoas e lancei meu primeiro disco há dois anos. Eu escrevo e toco desde os 12 anos. Toco flauta, faço rap, toco em bandas de rock, canto em grupos femininos…
Então, coloco essa pressão na gravadora. Mando as músicas para eles e, se gostarem, legal. Se não, a gente conversa.
G1 – Eu ia te perguntar isso mesmo: depois de tocar por mais de dez anos, lançar três discos, e só depois do terceiro virar uma sensação global em 2019, como isso te impactou?
Lizzo – Me impactou profundamente. Eu já estava feliz em ter uma carreira, fazer turnê, ter fãs, achava ótimo. Mas nunca esperei Grammys, álbuns de platina. Eu definitivamente não esperava a fama. Tudo isso foi pesado para mim.
Por um lado, estava grata de tantas pessoas gostarem de mim. Por outro lado, isso te faz perder uma parte de você, de sua privacidade. Passar por isso foi uma das maiores mudanças da minha vida. E eu fico grata por ter saído do outro lado mais saudável, mais equilibrada, mais feliz e cheia de gratidão.
G1 – Você já falou de Prince, mas essa música parece ter mais do que isso. Parece que tem de tudo: guitarra de rock, cowbells de dance music, metais de funk e soul, dueto com a Cardi B…
Lizzo – Sim, começou como um rock. Era só isso (imita a guitarra), só rock, quase punk. Escrevemos toda a música nisso. Eu poderia ter lançado um rock. Mas tudo em que tenho trabalhado é muito musical: guitarras, trompetes, bateria. Eu e o Ricky Reed [produtor que também trabalhou no álbum anterior] queríamos ver até onde podíamos levar essa musicalidade.
Os trompetes entraram de última hora. E ficaram perfeitos para a letra, quando dia “esperando pelo verão até que me deixaram sair de casa”. Aí entram os metais e é uma libertação.
Mas sim, eu sou uma artista multifacetada. Toco música clássica, soul, rap, amo big bands de metais, rock and roll. Então colocar tudo isso junto é o que faz uma música ser da Lizzo.
G1 – E o novo disco será assim tão pesado e dançante?
Lizzo – Eu não tenho o disco ainda. Mas eu tenho tipo umas 130 músicas. E quero achar qual história vou contar. Mas como disse, tudo o que eu faço é muito musical.
Como falei, estava numa fase em que me apaixonei por mim mesma. Sei o que é amar e ser amada, desejar e também não ser desejada.
Agora mesmo estou escrevendo uma música sobre estar sozinha, sobre toda a m**da por que passei no ano passado, precisei de terapia e de lidar com isso. E daí surgiu muita confiança. Então você vai ouvir uma versão muito confiante de mim, e vai ter muita música – espero que seja breve.