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JOSÉ HAROLDO, O VISIONÁRIO DA CACAUICULTURA

por Ornan Serapião
6 minutos para ler
Saída de José Haroldo deixou a Ceplac sem líder 

Por Walmir Rosário*

Recentemente o Ministério da Agricultura lançou a Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi-Cacau), uma parceria entre a Ceplac e a Embrapa, com o objetivo de fortalecer as pesquisas sobre o desenvolvimento genético e o controle da vassoura de bruxa. A Umipi, prevê investimento inicial de R$ 4,7 milhões e também deverá trabalhar com parcerias públicas e privadas.

De início, a Umipi empreenderá esforços em quatro linhas de pesquisa do cacau: recursos genéticos, melhoramentos genético, manejo de cacau e controle das doenças nos estados da Bahia, Pará e Rondônia. Nesses três estados estão localizados os principais bancos genéticos de cacau do Brasil, bem como de outros países, que forma uma diversidade genética importante para o futuro da cacauicultura.

A iniciativa é merecedora de aplausos, principalmente em decorrência do desmonte da Ceplac, o que vêm ocorrendo há mais de 30 anos pelos sucessivos governos da área federal. É verdade que, desde a saída de José Haroldo Castro Vieira da Secretaria-Geral, a Ceplac carece de um timoneiro experiente, capaz de liderar a instituição e com prestígio suficiente para buscar recursos para executar os projetos.

E foi justamente José Haroldo quem previu as ações políticas que jogariam por terra, sem direito a missa de corpo presente, a instituição Ceplac, com todo o seu cabedal de conhecimento e um corpo técnico de fazer inveja ao mundo científico. Na tentativa de frear a sanha de destruição do órgão, elaborou o Projeto Tropical, que funcionaria com a participação da Ceplac e da Embrapa.

A vantagem desse projeto é que uniria o maior conhecimento científico sobre a cacauicultura no mundo, disponível pela Ceplac, aos bons resultados conseguidos pela Embrapa na modernização da agropecuária brasileira. Embora as duas sejam estatais, a Ceplac desenvolvia ciência e a aplicava nos cacaueiros (agricultura perene) e a Embrapa se ocupava, com competência, notadamente, na agricultura de ciclos curtos.

A junção das duas instituições – com tipos de administração e burocracia diferentes – por certo daria um novo ânimo na recuperação da lavoura cacaueira, combalida desde o aparecimento da vassoura de bruxa no sul da Bahia. Como se a sanha do fungo destruidor não bastasse, a cacauicultura ainda contou com o desastre administrativo dos governos Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer.

O Projeto Tropical, elaborado por José Haroldo, tinha como fundamento fomentar a agricultura regional como um todo, aproveitando os cultivos agrícolas como um todo, de acordo com a qualidade do solo, condições agroclimáticas e a cultura regional. Do cacau cuidaria a Ceplac; e as outras culturas ficariam ao encargo da Embrapa, com a expertise nas lavouras de ciclo curto.

Se no papel o projeto seria perfeito, por certo a sua aplicação no campo teria efeito melhor ainda, por estar lastreado numa política pública para a agropecuária das regiões de competência da futura Empresa Tropical. Projeto em mãos, José Haroldo “vendeu” a ideia a quem de direito – lideranças políticas do legislativo, executivo e da própria agropecuária –, que fizeram ouvidos de mercador.

Mas o que existe de diferente entre o Projeto Tropical e a Umipi-Cacau? A ação do tempo, um fator que os tornam díspares. Àquela época, a Ceplac não dispunha de recursos para desenvolver a pesquisa, extensão e ensino técnico, embora contasse com uma equipe de profissionais e equipamentos à disposição. Por outro lado, a Embrapa voava em céu de brigadeiro, com recursos técnicos e cientistas disponíveis.

Hoje, três décadas depois, as duas instituições – Ceplac e Embrapa – contam com modernos equipamentos para a pesquisa, mas não mais dispõem daquele grande e brilhante corpo de cientistas. Se a Embrapa não contrata técnicos há cerca de 15 anos, na Ceplac a situação ainda é mais grave e há mais de 30 anos não houve a contratação de pessoal das áreas científica, administrativa e operacional. Pior, ainda, é que todos estão com tempo para requerer a sonhada aposentadoria, o que farão em curtíssimo tempo.

Ao que parece, embora não garanto, um diretor da Ceplac encontrou numa gaveta ou arquivo morto do Ministério da Agricultura o Projeto Tropical, resolveu dar uma lida e acreditou ser ideal para a reativação da cacauicultura. Para dirigir uma instituição científica não basta ser amigo do rei, tem que ter conhecimento da matéria, para não incorrer em erros pueris e tão comuns na administração pública.

Cabe à ministra Tereza Cristina (agricultora e política competente) reavaliar os discursos que fez e ouviu durante a apresentação da Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi-Cacau), para não chover no molhado dos que passaram pelo Ministério da Agricultura. A cacauicultura não precisa de mais do mesmo e sim de uma política agrícola que contemple todas as instâncias: dentro e fora da porteira.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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