Por Ederivaldo Benedito
O sepultamento do corpo de Maria Alice Araújo Pereira está previsto para acontecer às 17 horas desta quinta-feira, dia 06, no cemitério Campo Santos, em Itabuna. A apelidada de “A Dama de Ferro” faleceu aos 76 anos, às 05h30min da madrugada no hospital Calixto Midlej, onde estava internada, após sofrer um acidente vascular cerebral. O seu velório está sendo realizado na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Fátima.
Maria Alice faleceu três anos depois do desaparecimento de Fernando Gomes. Ex-prefeito de Itabuna e ex-deputado federal, Gomes – que por três décadas liderou o cenário político regional – morreu em julho de 2022, marcando o encerramento de um dos maiores ciclos da história do município, o principal do sul da Bahia, com cerca de 195 mil habitantes e 140 mil eleitores
Considerada uma das maiores articuladoras da historia política desta terra, a itabunense Maria Alice, outra coisa não fez ao longo das últimas cinco décadas, no poder ou fora dele, a não ser reuniões, negociações, composições, campanhas, articulações políticas. É, sem dúvida, uma das poucas mulheres no sul da Bahia que está há tanto tempo no cenário regional discutindo questões ligadas à região.
Líder estudantil no Colégio Divina Providencia, Maria Alice iniciou a militância política aos vinte anos, no extinto Movimento Democrática Brasileiro, ao lado de Ney Ferreira, Daniel Gomes. Fernando Gomes e Gutemberg Amazonas. Em 1972, em pleno regime militar, o MDB – o partido que abrigava comunista e fazia oposição ao Governo – elegeu o empresário José Oduque Teixeira prefeito de Itabuna.
Poetisa, artista plástica, radialista, apreciadora da gastronomia portuguesa e baiana, Maria Alice foi secretária municipal e vereadora. Nas décadas de 70 e 80, participou, ao lado de outras mulheres baianas, do movimento de resistência democrática, das campanhas de Waldir Pires e das “Diretas Já”, da eleição de Tancredo Neves e da construção da Amurc. Coordenou inúmeras campanhas de governadores, deputados, prefeitos e vereadores.
O falecimento de Fernando Gomes, em 24 de julho de 2022, trouxe também uma coincidência história: há exatos 53 anos – dia 25 de julho de 1969 – morria outro ex-prefeito itabunense, Gileno Amado. Gomes faleceu aos 83 anos, no Hospital Aliança, em Salvador, após complicações clínicas. Amado foi vítima de acidente automobilístico, em frente à sua fazenda, na rodovia Ilhéus-Itabuna, aos 78 anos.
O desaparecimento de ambos marcou o encerramento de dois ciclos distintos da história política de Itabuna No próximo dia 28 de julho, o município completará 115 anos de emancipação.
Gileno fechou o período do poderio político-econômico dos produtores de cacau, influenciado pelo Integralismo; Fernando encerrou a era do populismo sulbaiano, iniciado no final da década de 50 pelo ex-prefeito José de Almeida Alcântara, com a participação dos comunistas.
Voltado para a população mais carente, esse movimento político liderado por Fernando Gomes marcou o cenário socioeconômico de Itabuna nas últimas quatro décadas. Estimulou o surgimento de lideranças políticas populares e teve a sua ascensão no início da década de 70, após a morte de Gileno Amado.
Sergipano de Estância, Gileno Amado foi advogado, empresário, agricultor e banqueiro. Considerado o último coronel do cacau da região, liderou politicamente Itabuna durante das décadas de 1920 até o final dos anos 50, tendo sido secretário da Fazenda durante o governo de Juracy Magalhães. Ex-prefeito de Itabuna, casou-se com dona Amélia Berbert Tavares, filha do coronel Misael Tavares.
Natural de Itabuna, Fernando Gomes é a figura pública que mais tempo permaneceu no poder no sul da Bahia: 47 anos, desde 1973, quando era secretário municipal de Administração, durante o governo do prefeito José Oduque.
Como poucos, FG tem uma história, uma trajetória política: de simples vaqueiro a três vezes deputado federal e cinco vezes prefeito de um dos municípios mais importantes do nordeste. Eleito pela primeira vez, em 1977, pelo velho MDB, em plena ditadura militar, foi o único representante de Itabuna na Assembleia Constituinte de 1988. Entrou para história do Brasil como o homem que quase dividiu o Estado da Bahia.
Temida e querida, amada e odiada, ao longo dessas cinco décadas “Dona Maria Alice” colecionou amigos e desafetos; conquistou uma legião de seguidores e admiradores, e ganhou inúmeros adversários, alguns inimigos.
Fora do poder há quase cinco anos, a chamada “Dama de Ferro” – que teve grande e marcante presença nos bastidores da política local, promovendo reuniões e articulações com lideranças estaduais e locais – vivia no ostracismo político, com crises de ansiedade e depressão. Vitima de AVC, estava internada desde o início do mês de fevereiro.
No cenário itabunense, Maria Alice lembra fênix – aquela ave mitológica que possui uma extraordinária força e representa os ciclos da vida, o recomeço, o passado, o presente e o futuro. A “Dama de Ferro” vai fazer falta no cenário político sulbaiano.
Escrito por: Ederivaldo Benedito e publicado no blogdobene