EFE/EPA/KCNAO líder norte-coreano Kim Jong-un
A Coreia do Norte vem enfrentando problemas no abastecimento de alimentos, questão reconhecida pelo próprio líder do país, Kim Jong-un. Em uma reunião de líderes do seu partido, em junho, o político afirmou que a situação alimentar da população estava “ficando tensa”. Por causa de inundações no ano passado, o setor agrícola não conseguiu cumprir suas metas de colheita de grãos. Além disso, a situação piorou com a pandemia. O país mantém as fronteiras com a China, seu principal parceiro comercial, fechadas desde o início de 2020 para conter a disseminação da Covid-19. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em agosto, informou que a população mais vulnerável da Coreia do Norte está “em risco de fome” por causa dos bloqueios impostos pelo país durante a crise sanitária, além das sanções internacionais causadas por seu programa nuclear.
Alexandre Uehara, professor do curso de relações internacionais da ESPM e doutor em ciência política pela USP, afirma que, com a pandemia, a Coreia do Norte perdeu seu principal fornecedor de produtos, intensificando as dificuldades econômicas e o isolamento que o país já vinha sofrendo. “Além das sanções internacionais que já vinham acontecendo desde 2006, estabelecidas pela ONU, a pandemia afetou o país de maneira bastante significativa”, destaca. “A China tem sido um parceiro bastante preocupado com a situação da Coreia do Norte porque, de certa maneira, é o único interlocutor de Kim Jong-un na comunidade internacional. Com esses testes que a Coreia vem fazendo com mísseis, ela ficou muito isolada, e o único país de diálogo tem sido a China”, explica Uehara. Apesar da reprovação da comunidade internacional, a Coreia do Norte continua fazendo testes nucleares. Em outubro, a Coreia do Sul informou que o país vizinho lançou um míssil balístico a partir de um submarino próximo à costa do Japão.
De acordo com a matéria da JP, para Uehara, no entanto, as sanções internacionais acabam impactando diretamente a população e não se mostram tão eficientes neste momento. “A gente percebe que a população da Coreia do Norte tem passado por dificuldades cada vez mais profundas, de empobrecimento, da questão da falta de alimentos. Enquanto isso, o Kim Jong-un, que é quem a comunidade internacional quer enfraquecer, não parece estar demonstrando enfraquecimento”, analisa. O professor afirma ainda que a manutenção da força política de Kim Jong-Un vem também do controle de informações no país. “Realmente é muito rigoroso na Coreia, e essas dificuldades que a população vem enfrentando, como a falta de alimentos, são colocadas pelo governo norte-coreano como um resultado da ação internacional, e não do próprio governo. De fato, a comunidade internacional impõe sanções. Quando Kim Jong-un faz um lançamento de mísseis, ele faz toda uma propaganda politica do quanto ele é forte e consegue garantir aos cidadãos norte-coreanos a segurança contra essas ‘ameaças’ estrangeiras. Então, a população acaba apoiando a atuação dele”, conclui.