O advogado Antônio Campos reafirmou, nesta quinta-feira (29), sua disposição de cobrar uma investigação conclusiva sobre o que aponta como “fortes indícios de assassinato” de seu irmão e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que morreu na queda de um avião em Santos (SP), quando era candidato de oposição à campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) à Presidência, em 2014.
“O acidente com o avião tem a ver com esse entorno e com esse contexto, que o tempo revelará. Foi um assassinato! Mexeram numa peça do avião, o que seria de difícil prova, métodos muito utilizados por profissionais do crime”, disse o irmão de Eduardo Campos, ao jornalista Magno Martins, da Folha de Pernambuco, ao reagir à afirmação do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que revelou que a então presidente petista usou a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar o ex-governador que ameaçava sua reeleição.
Campos era pré-candidato e morreu em queda de avião – Foto: Marcelo Camargo/ABr.
Em entrevista a Magno Martins, ontem (28), Carlos Siqueira afirmou o seguinte: “Quando Eduardo saiu pré-candidato, era uma renovação. E a pré-candidatura dele saiu a fórceps, porque a presidente Dilma Rousseff interferiu tanto. Ele sofreu muitas ameaças, teve uma greve em Suape, Dilma botou um agente da Abin lá. Vivi tudo isso intensamente, sei o quanto foi difícil, as dificuldades políticas que passamos foram muito grandes, insufladas pelo governo Dilma e por gente do PT. Infelizmente teve o acidente. Mas essa resistência [contra a renovação] é só do PT”.
Antônio Campos foi além da lacônica, porém grave, revelação de Carlos Siqueira, destacando que as tensões e perseguições de Dilma à candidatura presidencial de Eduardo Campos são verdadeiras e merecem registro. Porque já teria havido uma perseguição ao governo de seu irmão, com quem, diz o advogado, a então presidente “implicava e tinha ciúmes da relação pessoal e política de Eduardo com Lula” .
Ação tramitando e investigação arquivada
Antônio Campos disse hoje que ainda resta uma ação de produção de provas em curso, que tramita na 4ª Vara Federal de Santos, sob número 5001663-02.2017.4.03.6104, ajuizada por ele e sua mãe, para tenta provar que houve uma sabotagem numa peça e que o avião, ao fazer uma manobra mais radical, daria um efeito pitch down.
“Há pareceres de assistentes técnicos nesse sentido, que foram desconsiderados numa pífia investigação da autoridade policial responsável pelo assunto à época”, detalhou.
Em 2023, o irmão do ex-governador de Pernambuco, usou suas redes sociais para afirmar ter usado pistas de duas cartas mediúnicas atribuídas a Eduardo Campos, ao pedir para que a Justiça determinasse a reabertura do inquérito policial para investigar o acidente aéreo que matou o então candidato a presidente da República do PSB.
“Não guardo ódio, mas, sim, ainda, revolta”, diz trecho atribuído à carta psicografada em agosto de 2023, na qual ele afirmaria ter aprendido nos meios espirituais que, nem sempre, o livre arbítrio para matar faz parte da lei divina. Na carta mediúnica citada por Antônio Campos, o político desencarnado estaria lançando “um olhar de piedade aos [seus] falsos amigos, traidores que foram” e avisando que os ajudará a “resgatá-los da tenebrosa esfera de dor que os aguarda”.
Eduardo Campos morreu em 13 de agosto de 2014, em São Paulo, vítima de um acidente aéreo no litoral de São Paulo Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
O inquérito chegou a ser desarquivado, em setembro de 2023, por determinação da Justiça Federal. Mas voltou ao arquivo, em abril de 2024, após o juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, enviar o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR) e receber o parecer de que não havia elementos para reabrir a investigação.
‘Foi assassinato!’
Veja o posicionamento completo de Antônio Campos:
“As palavras do atual presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sobre as tensões e perseguições de Dilma Rousseff (PT) à candidatura a presidente de Eduardo Campos são verdadeiras e merecem registro. Elas foram reveladas em entrevista ao jornalista Magno Martins. Já havia perseguição ao Governo Eduardo Campos, com quem implicava e tinha ciúmes da relação pessoal e política de Eduardo com Lula.
Estive também na listagem dessas investidas, não só da Abin, que passava também por uma estrutura profissional de jornalismo investigativo, que colocaram a vida de Eduardo, a minha e de alguns outros familiares, à época, de cabeça para baixo. Essa parte jornalística tinha as digitais do conhecido Thomas Traumann, que à época a servia, e depois brigou com Dilma.
Eu era constantemente procurado por alguns jornais, tentando buscar informações ou me colocar contra ele, como também investigado. Havia uma pergunta clássica: qual o defeito do seu irmão? Dizia, ele não tem defeito. Se apontasse algum defeito, esse seria o destaque da matéria.
A Dilma é ‘best friend’ do conhecido Vladimir Putin e seus conhecidos métodos.
A morte de Eduardo, que ainda resta uma ação de produção de provas, em curso, processo de n° 5001663-02.2017.4.03.6104, que tramita na 4ª Vara Federal de Santos – SP, por mim e minha mãe movida, tenta provar que houve uma sabotagem numa peça e que o avião, ao fazer uma manobra mais radical, daria um efeito pitch down. Há pareceres de assistentes técnicos nesse sentido, que foram desconsiderados numa pífia investigação da autoridade policial responsável pelo assunto à época.
O acidente com o avião tem a ver com esse entorno e com esse contexto, que o tempo revelará. Foi um assassinato! Mexeram numa peça do avião, o que seria de difícil prova, métodos muito utilizados por profissionais do crime.
Na semana em que Eduardo morreu, eu que fazia parte do jurídico dele, estava tratando de uma matéria plantada em um grande jornal e tinha conversado com o jornalista e explicado um assunto e enviado alguns documentos. Na manhã cedo do fatídico falecimento, atualizei Eduardo do assunto, cuja última palavra para mim foi “obrigado”, através de Whatsapp. Também falei com o jornalista Percol, que assessorava Eduardo, na fatídica manhã. Diferente do que alguns falam de mim numa tentativa de “cancelamento”, que não passa de jogo de poder, minha relação com meu irmão Eduardo era boa e sempre estive com ele, nos momentos bons e difíceis. Oro por ele todos os dias para que esteja na luz.
Tal jornalista me encontrou no velório de Eduardo, no Palácio do Campo das Princesas e me pediu desculpas: “Foi política”. Disse: “lamentável!”. Era um dos membros da estrutura jornalística de perseguição.
Além de ter sido perseguido durante o seu mandato por Dilma, no governo e na pré-campanha, há indícios de que meu irmão foi assassinado, utilizando para tanto a falha provocada em avião, o que seria e é de difícil prova.
Jamais desistiremos de elucidar e provar a real causa da morte de Eduardo Campos. Esse compromisso tenho, como único irmão, independente de eventuais querelas menores familiares, que já perdoei e me sinto abençoado por Deus, nem que pague com a minha vida. Já sofri ameaças, objeto de representações formalizadas. Ora, um verdadeiro Campos/Arraes só morre no campo de batalha e não tem rendição, pois corre em nossas veias o sangue nordestino e o legado de Bárbara Alencar e a inspiração de Canudos. Quem viver assistirá.
São esses os breves e importantes registros que gostaria de prestar, estando sempre à disposição das autoridades competentes para esclarecer ou dizer o que sei sobre esse triste episódio, que vitimou meu irmão e outros companheiros de luta”.
Recife/Olinda, 29/05/2025
Antônio Campos – advogado e escritor
Outro lado
O Diário do Poder enviou questionamentos para perfis das redes sociais de Dilma Rousseff, após tentativa frustrada de contatar a assessoria da ex-presidente, pelo canal disponibilizado no site da atual presidente do Banco dos Brics. E fica à disposição para divulgar eventual posicionamento.
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