Escondido no coração da cidade, o restaurante mais antigo de São Paulo, o Carlino, é pequeno, mas acolhedor e cheio de memórias. As mesas cobertas com toalhas xadrez nas cores verde e vermelho e as fotos na parede entregam que por ali a culinária básica é a italiana. O local existe desde 1881 e foi fundado por um italiano da Toscana. Em 1978, o local foi passado às mãos da família Marino, quando seu Antônio Carlos assumiu a administração. Ele atendia à regra de ser um proprietário vindo da região de Luca, na Itália. Desde que faleceu, há dois anos, quem toca o negócio da família são os filhos Bruno e Bianca. Bianca é a chefe desde 2016, e Bruno é o seu braço direito. Além do restaurante, os filhos herdaram do pai a paixão pela cozinha mediterrânea. Ambos estudaram gastronomia no interior. Para o aniversário de 469 anos da cidade de São Paulo, a expectativa dos irmãos Marino é lotar a casa. “A gente faz reserva até 13 horas e depois vai por ordem de chegada. O que o pessoal pede muito nessas datas, que é um prato superpaulistano, é o Filé à Parmegiana, mas com massa“, revela a chefe.
O restaurante já mudou de endereço algumas vezes, mas nunca deixou o coração da capital paulista. Foi em 2005 que o Carlino foi parar na Vila Buarque, fazendo com que uma rua até pouco tempo esquecida renascesse. Hoje, o restaurante divide o espaço com outros lugares badalados da região. “De alguns anos para cá, com a vinda de alguns chefes renomados, o centro voltou a ser o que era antigamente. Para a gente é muito importante isso. Não só restaurantes, mas também grandes empresas estão voltando ao centro de São Paulo. Uma coisa que meu pai sempre falou é que o coração da cidade sempre é o centro. Isso fez com que a gente sempre se mantivesse aqui no centro, por mais que já tenhamos recebido propostas para ir para Jardins, Vila Nova Conceição, mas a gente acredita que o centro ainda é o coração da cidade”, diz Bruno.
Mas, se do lado de fora a cidade mudou, dentro há coisas que existe desde sempre e que não pode sair. Alguns pratos do cardápio como o coelho e as massas com frutos do mar são exemplo disso. “A gente tentou, deu uma modificada no cardápio, mas não adianta, as pessoas gostam mesmo do tradicional. Procuram o que mais sai, o que é mais tradicional. A gente vai explicando e, acabam pedindo os mesmos”, revela Bruno. “Eles querem e gostam desse ambiente familiar, que a gente vai nas mesas, a gente conversa com todo mundo, às vezes a pessoa quer comer alguma coisa que não tem no cardápio, a gente faz. Então, as pessoas acabam se sentindo acolhidas aqui”, completa Bianca.
A chefe conta ainda um pouco da história do restaurante: “Meu avô tinha um açougue e, com 18 anos, meu pai comprou o primeiro restaurante dele, porque de entregar as carnes para os restaurantes, ele se apaixonou por esse universo. Depois ele teve uma pizzaria na Consolação, que durou bastante também, chamava Toscarina, junto com o meu tio. E, em 1978, ele comprou o Carlino”, conta a filha. Seu Marino foi o terceiro dono do restaurante. Bruno também comenta: “É um prazer enorme para mim, por gostar tanto de gastronomia. Sempre foi um prazer trabalhar aqui, ainda mais com toda essa história e esse legado que meu pai deixou”. Para ele, a combinação da tradição com a qualidade é o segredo de tanto reconhecimento. “Outro dia, uma pessoa me ligou de Ubatuba só para vir almoçar aqui. Acho que a tradição e, com certeza, a qualidade também ajudam muito as pessoas a virem conhecer o restaurante”, diz.
As amigas de infância Margareth e Denise, saíram do Rio de Janeiro só para conhecer o restaurante mais antigo de São Paulo. Elas contam que a viagem valeu a pena. “Antes da gente vir aqui, a gente pesquisou um pouco e, realmente, ele preencheu aquilo que a gente queria, que era a tradição, saber que é uma boa comida, eu pesquisei também na internet e gostei muito das referências”, comenta Denise. “Eu já gosto de comida italiana, então quando ela disse que procurou, eu já fiquei animada, e também que foi bem acolhedor, bem aconchegante. Tudo dentro do que a gente estava esperando. Preencheu bem as expectativas”, continua a amiga.
JP com informações da repórter Soraya Lauand