Christiane Torloni, 67, foi Tereza Cristina em “Fina Estampa” (2011), Helena em “Mulheres Apaixonadas” (2003), Diná em “A Viagem” (1994), Jô em “A Gata Comeu” (1985), entre tantas outras. Prestes a completar 50 anos de carreira, em 2025, ela passou boa parte dessa trajetória na Globo, de onde anunciou sua saída em abril.
À Folha de S.Paulo, a atriz falou sobre sua relação com a emissora de forma positiva, dando a entender que não ficaram mágoas. “Eu ganhei na loteria por de ter tido a oportunidade de trabalhar numa instituição que, para o Brasil, eu acho que é um orgulho”, afirmou.
Segundo ela, o fato de não ter mais contrato fixo é, de certa forma, mais adequado para quem vive da arte. “Se você está procurando segurança, não seja um artista”, explicou. “Você pode até ter jeito para a coisa, mas se você quer segurança, você não pode ser um artista. Você não deve ser. Você vai sofrer miseravelmente. Porque parte da criação vem dessa instabilidade.”
“Existe uma coisa que o artista lida que se chama impermanência”, prossegue. “Se você se apegar demais, você está ferrado.”
Torloni lembra que sua primeira aparição na telinha foi na extinta TV Tupi e que passou por outras emissoras no meio do caminho (na TV Manchete, foi a protagonista de “Kananga do Japão”, por exemplo). E, mesmo quando esteve ligada à Globo, tentou tocar projetos paralelos.
“Tem artistas que tiveram uma linha do tempo. A minha linha do tempo não é essa. Eu fiz muitos trabalhos por obra certa. E, nesses intervalos, entre uma obra e outra, eu fui fazendo teatro, eu fui fazendo cinema. São várias colunas que apoiam a minha carreira. Não uma só. Porque é perigosíssimo você colocar todos os ovos numa cesta só”, ensina.
Agora, ela tem planos de voltar aos palcos em um espetáculo previsto para estrear na capital paulista daqui a dois meses, com Antonio Fagundes, 75, como parceiro de cena. Quem estiver com saudades, também pode conferir a reprise de “A Viagem”, que está no ar no canal pago Viva. A novela, aliás, é um dos muitos pares românticos que ela fez com o colega.
Sobre a temática espírita da novela e as novas abordagens religiosas, com a evangélica, nos folhetins atuais, a atriz acredita que há espaço para tudo, e que o papel da TV aberta é ser plural. “Eu acho que a TV aberta é essencial porque ela fala diretamente; a gente não pode esquecer o caldo de cultura que o Brasil, sabe?”, diz.
“Tem espaço para todo mundo, tem espaço para todas as dramaturgias, tem espaço para todos os cinemas e para todas as artes”, defende. “Tem que ter lugar para tudo na poesia. Onde não tem é na política. Porque, ao que me conste, o Estado brasileiro é laico. E aí que a gente vai ter as superposições que são perigosas.”
Defensora de pautas ambientais e democráticas, a atriz foi uma das palestrantes do seminário sobre os 40 anos das Diretas Já, realizado pela OAB e Folha de S.Paulo no último dia 29. Nome importante para o movimento, Torloni falou sobre a importância da discussão do ato.
“É muito importante eventos que cuidem da nossa memória porque não existe uma democracia concluída”, avaliou. “O processo político, civilizatório, está em ação, está em movimento. Tudo está acontecendo. E não depende só de um movimento interno. A gente não pode esquecer que houve uma ditadura. A gente não deve esquecer. Como é que a gente não vai esquecer que houve uma ditadura? Lembrando das Diretas Já.”
Por Ítalo Leite | Folahpress