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ELEIÇÕES 2022 – Tensão máxima: A vigília do dia 2 de outubro

por Ornan Serapião
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Foto: Redes Sociais
Foto: Redes Sociais

Os sinais são evidentes. O “sistema” aperta o cerco e dispara os seus últimos e carregados petardos às vésperas do inquietante (e imprevisível) sufrágio, na esperança de reaver, não importa qual o preço, a posse definitiva e absolutista do Estado, comme d’habitude:

a) grandes grupos de comunicação, em derradeiro e orquestrado esforço coletivo, escracham de vez, sem qualquer pudor ou ética jornalística, a sua preferência militante por uma única candidatura, arremessando, ilimitadamente, dia e noite, narrativas mendazes e enraivecidas contra o “inimigo comum”, com o toque e a cadência de um avassalador massacre, ao estilo tipicamente fascista, inédito na história da “república” tupiniquim;

b) institutos de pesquisa, em assumida (e indecorosa) tendenciosidade, ignorando as próprias credenciais de respeitabilidade junto ao mercado, exorbitam em suas falsificações das intenções de voto, na expectativa de dar a sua (bem paga) “contribuição” na atração desesperada dos eleitores indecisos de última hora, além (quiçá?) de “lastro” e pretexto antecipado para uma possível (e dissimulada) fraude programada;

c) velhos e célebres quinhoeiros do tradicional “consórcio”, de todas as classes e naipes (ex-políticos, ex-juízes, acadêmicos, artistas, religiosos, etc.), emprestam sua controversa e enlaçada biografia para se somarem, publicamente, sem constrangimento ou remorso, à cinésica artilharia raivosa, auto iludindo-se ainda conservar o suposto (e nem sempre palpável) fascínio popular de outrora, como se “divos” eternos e irresistíveis fossem – apesar do visível caimento de suas pérfidas e escorregadiças silhuetas (inclusive sob o ângulo moral);

d) o inimputável e sátrapa ministro Alexandre de Moraes, atual presidente do TSE, amparado pela conivência e mancomunação de seus pares, amplia desmesuradamente sua coletânea de atos seletivamente despóticos e abusivos contra seu proferido e marcado adversário – agora envolvendo, inclusive (e propositalmente), a sua esposa –,  sem qualquer imputação de suspeição quanto ao cargo que exerce, na única intenção de gerar controvérsias e instabilidade no meio, com sinalização antecipada de ameaças  afrontosas à ordem democrática e ao Estado de Direito.

Já faz tempo que os “donos do poder” – que nunca foram democráticos – vêm sinalizando que não irão aceitar ser derrotados, mais uma vez, pelo povo, mediante os preceitos e regras habituais e constitucionais do sufrágio livre e universal. Afinal, como externou certa vez, em ato  falho, o então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso: “eleição não se ganha, se  toma!”.

São os mesmos e poderosos atores que derrubaram, no STF, em 2015 (por ocasião da reforma política), por mero e insustentável casuísmo, a introdução do voto impresso auditável nas urnas eletrônicas, aprovado por ampla maioria do Congresso Nacional, naquela ocasião.

Os mesmos que, sob o protagonismo do então presidente do TSE, ministro L. R. Barroso, interferiram, inescrupulosamente, na Comissão Especial da Câmara dos Deputados para impedir a aprovação da emenda constitucional (PEC 135/19) que retornaria, em 2021, a introdução do  voto impresso nas urnas eletrônicas, a vigorar já no pleito do corrente ano.

Os mesmos que conspiraram diuturnamente para “impichar” o atual presidente da república por meio de CPIs (Fake News, Covid 19), ou caçar-lhe o mandato mediante inquéritos abusivos de “fim do mundo” (como cunhado pelo ex-ministro do STF, Marco Aurélio Melo), estrategicamente ainda em trâmite.

Os mesmos que pressionam o STF a censurar, perseguir e condenar, seletivamente, parlamentares, políticos, religiosos e influencers das redes sociais partidários e/ou simpatizantes do presidente da república, atribuindo-lhes delitos inexistentes e imaginários, à revelia da Lei e dos pétreos preceitos constitucionais.

Os mesmos que usam o poder dos supremos magistrados para compensar a fraqueza dos partidos de oposição, incentivando o ilegítimo (e ilegal) ativismo judicial e político, com interferências autoritárias em outros Poderes; propagandas facciosas e iníquas contra o Governo em lives e eventos internacionais; ilícita atitude (de vez que prerrogativa exclusiva do Chefe do Executivo) em convocar embaixadas estrangeiras para solicitar, com estranha antecedência, a adesão “imediata” de seus países aos resultados “oficiais” das eleições vindouras (como foi a iniciativa do ministro Fachin, quando presidente do TSE) – etc., etc., etc.

Diante de tal suspeitoso quadro, depois de tanto “investimento” e acumulado desgaste, como imaginar que o “sistema”, em sua imorredoura sanha, fracassado em suas tentativas preliminares de golpe contra a ordem democrática, agora abriria mão, justo na “prorrogação” do match, de garantir-se a retomada do poder presidencial (que comanda o cofre e as nomeações) por mero e fortuito prurido moral (que não detém), abrindo mão de investir, como último recurso, sem qualquer hesitação ou escrúpulo?

Não tem lógica!

Jamais o establishment aceitaria “morrer na beira”, condenando-se, em nome de princípios que não comunga, a mais quatro anos (ou mais) de secura pecuniária.

Esta, aliás, é a razão para tanta aflição, que pode se transformar, em pleno dia “D” (conforme o andar da carruagem), em incontrolável convulsão – como já assinalam, desde já, com enorme translucidez, os mais perceptíveis sinais.

Sim, o TSE (em combinação com o STF), até aqui o maior responsável por todo esse clima de desconfiança e revolta que assola o país, por sua postura reconhecidamente parcial e sectária, poderá vir a ser, também, o causador principal de uma repentina e imponderável (além de indesejada) insurreição popular, cujo desfecho, dado o momentoso e aflitivo cenário, é imprevisível e, deveras, assustador.

Tudo dependerá da condução do processo de votação e do comportamento oficial dos agentes do Tribunal quanto aos procedimentos finais de apuração, cujo gerenciamento e proclamação de resultados não podem dar margem a qualquer tipo de desconfiança ou suspeição de cilada perante o eleitorado. 

O “sistema” precisa entender, de uma vez por todas, fora dos limites míopes de sua “bolha”, que o “gigante”, finalmente, acordou! Que a correlação de forças na arena política hoje é outra – e não mais a mesma (e “confortável”) do passado! Que as massas estão nas ruas, nos quatro cantos do país, em irrestrita e atenta mobilização (cidadania ativa), dispostas a defender os seus direitos de único e legítimo soberano com a própria vida, caso necessário – diante do que não  se deve brincar.

O grito de “independência ou morte” já foi ecoado! “Libertas quae sera tamen”, também! Só não ouviu quem é (politicamente) surdo.

Que não se menospreze, por conseguinte, a força do povo (dos sans-culottes tupiniquins), sob pena desta se transformar, quando menos se espera, em disruptivo (e homônimo) substantivo sem cedilha – para espanto do patronato patrimonialista do “Antigo Regime”.

E a história está farta de ilustrações!

Alea jact est!

Alex Fiúza de Mello. Professor Titular (aposentado) de Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestre em Ciência Política (UFMG) e Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), com Pós-doutorado em Paris (EHESS) e em Madrid (Cátedra UNESCO/Universidade Politécnica). Reitor da UFPA (2001-2009), membro do Conselho Nacional de Educação (2004-2008) e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (2011-2018).

Matéria publicada originalmente, neste 01.10, no jornal da cidade online

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