O Brasil voltou a se mover. Quadro ficará melhor se Bolsonaro e ministros contribuírem
O Brasil voltou a se mover, puxado pela indústria, e produziu no segundo trimestre 0,4% mais que no primeiro. A melhor novidade foi o crescimento industrial, especialmente nos segmentos de transformação e de construção civil. Houve uma surpresa positiva, mas o País terá de avançar muito mais – e mais rapidamente – para criar vagas e eliminar as filas de desempregados. Melhor que o esperado, o resultado trimestral pouco alterou o cenário mais amplo. A economia avançou 1% em um ano e a perspectiva, agora, é de um resultado muito parecido com esse, talvez pouco melhor, nos 12 meses de 2019. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% em cada um dos dois anos anteriores e um resultado igual ou superior a 2% só deverá ocorrer em 2020. O País continua no fundo da crise iniciada há cinco anos, apesar da reação a partir de 2017. Seria necessário um avanço de quase 5% para um retorno ao pico atingido nos primeiros três meses de 2014. Na melhor hipótese, a reação no segundo trimestre terá marcado uma inflexão, depois de um final de ano e de um começo muito ruins. O governo continua devendo, de toda forma, um desempenho econômico digno das expectativas indicadas por empresários na virada de 2018 para 2019, quando se montava a nova administração. Os primeiros seis meses de mandato do presidente Jair Bolsonaro desmentiram aquelas expectativas e, além disso, nada sério foi feito, além do avanço na reforma da Previdência, para garantir maior dinamismo econômico. Além de fraco desempenho no curto prazo, os números mostram escasso esforço de preparação para os anos seguintes. O capital investido em máquinas, equipamentos e obras cresceu 3,2% e correspondeu, no segundo trimestre, a apenas 15,9% do PIB, taxa pouco superior à de um ano antes, de 15,3%. A maior parte do investimento produtivo foi realizada, como ocorre normalmente, pelo setor empresarial. A aplicação de recursos em infraestrutura permaneceu muito abaixo das necessidades do País. A construção, com aumento de 1,9% em relação ao trimestre anterior e de 2% em relação a um ano antes, ficou restrita à área imobiliária. Não há como prever para os próximos anos, portanto, um potencial de crescimento econômico muito maior que o atual. Haverá algum reequipamento das empresas, mas ainda moderado, e pouquíssima expansão da infraestrutura. Num país com sistema logístico muito deficiente e escasso aumento do potencial energético, a capacidade produtiva em breve chegará ao limite, impondo uma trava ao crescimento econômico, se os investimentos continuarem fracos. Haverá pouco espaço, portanto, para a expansão do emprego e para a melhora das condições de vida. Estas condições continuarão sendo determinadas também pelas condições muito ruins do saneamento, um componente literalmente vital, embora nem sempre lembrado, da infraestrutura. Ao tratar das condições de crescimento e modernização, é preciso também mencionar um fator perigosamente negligenciado. Os indicadores de investimento incluídos nas contas nacionais em geral se referem à formação de capital fixo. Mas o desenvolvimento depende também da formação de capital humano, por meio dos programas sociais e das ações de educação e treinamento. A política educacional do atual governo tem sido marcada acima de tudo por preocupações ideológicas, por muitas confusões e conflitos, pelo corte atabalhoado de verbas e pela falta total de planejamento e de competência técnica. Os conflitos do presidente com a ciência também justificam sérias preocupações. Pelo menos os sinais de reativação da indústria são animadores. O setor se destaca pelo potencial multiplicador, pela absorção e geração de tecnologia e pela capacidade de criar empregos formais, com remuneração decente e benefícios complementares. Com os juros contidos, o Banco Central facilitou os negócios. O quadro ficará melhor se o presidente Bolsonaro e ministros contribuírem. De positivo, nada fizeram além de promover a reforma da Previdência. O resto foi quase só confusão.