País fechou semestre com cenário ruim, mas com sinais promissores no mercado de trabalho
Com 12,8 milhões de desempregados e um total de 28,4 milhões de subutilizados, o Brasil fechou o primeiro semestre com um cenário ainda muito ruim no mercado de trabalho, mas com alguns sinais promissores. Houve acréscimo de 1,48 milhão de pessoas na população ocupada, no período de abril a junho, e foram abertas 294 mil vagas com carteira assinada no setor privado. O desemprego passou de 12,7% para 12% da força de trabalho entre o primeiro e o segundo trimestres. Pode ter sido um começo de recuperação do mercado. Mas é cedo para dizer se isso será confirmado no resto do ano, ressalvou o técnico Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Proclamar desde já uma virada nas condições de emprego seria “forçar a barra”, acrescentou. Uma fala mais otimista seria mais agradável, mas poderia ser precipitada.
Apesar de alguns sinais positivos, os primeiros seis meses de mandato do presidente Jair Bolsonaro foram concluídos com desemprego muito alto e um contingente desocupado muito parecido com o de um ano antes. De fato, nesse período nenhuma atenção foi dada ao problema pelo governo.
Os dados favoráveis são pelo menos em parte sazonais: o mercado de emprego normalmente melhora entre o primeiro trimestre e o segundo. Entre janeiro e março as empresas fecham boa parte das vagas temporárias criadas nos meses finais de cada ano. Há, portanto, um componente sazonal na melhora registrada entre abril e junho. Falta confirmar se fatores mais duradouros contribuíram para a reação agora apontada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Indústria, comércio e serviços foram mal nos cinco primeiros meses do ano, segundo os dados até agora publicados pelo IBGE. Os negócios podem ter sido melhores em alguns segmentos dessas atividades, mas sem alterar sensivelmente, nesse período, o ritmo geral das contratações. Números de junho devem ser conhecidos neste começo de mês.
Ainda muito ruim, o quadro geral do mercado de trabalho é compatível com a economia emperrada na maior parte do primeiro semestre. Somando-se os 12,8 milhões de desempregados, 7,4 milhões de subempregados e 4,9 milhões de pessoas desalentadas, chega-se a 25,1 milhões de trabalhadores em situação muito ruim.
Para encontrar os 28,4 milhões de subutilizados da conta do IBGE é preciso seguir outro caminho. Leva-se em consideração, nesse caso, a chamada mão de obra potencial, com 8,3 milhões de pessoas, incluído o contingente dos desalentados. Mas basta a referência àquele número mais tangível de 25,1 milhões para caracterizar a desastrosa condição do mercado de emprego.
O quadro fica mais claro quando se mencionam os 24,1 milhões de trabalhadores por conta própria, um recorde na série histórica (mais 391 mil pessoas em relação ao primeiro trimestre). Terá havido um surto de empreendedorismo entre os brasileiros? Parece mais seguro atribuir esse novo aumento principalmente à escassez de vagas. Também o trabalho por conta própria é parte, portanto, da crise do emprego.
O rendimento médio habitual ficou em R$ 2.290, com redução de 1,3% em relação ao valor real do trimestre encerrado em março. A massa de rendimentos ficou estável em relação ao trimestre anterior.
Estes números, combinados com a insegurança quanto ao emprego, ajudam a entender por que as famílias foram tão cautelosas no consumo de bens e de serviços nos primeiros cinco meses de 2019, período com dados já conhecidos. Há um evidente movimento circular entre o consumo, a produção de bens e serviços, a geração de empregos e, novamente, o consumo familiar.
Se os bons sinais se confirmarem, especialmente na indústria de transformação, o País poderá terminar 2019 em situação menos dramática, embora com desemprego ainda elevado. Mas, ainda assim, nada disfarçará o descaso da política econômica em relação aos milhões de famílias afetadas pelo desastre do emprego.