O País só começou a retomar o caminho do crescimento porque fez a opção pela austeridade e pelas reformas. E esse ajuste ainda é muito tímido
O boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostra que o mercado está um pouco mais otimista em relação ao crescimento da economia. Elaborada pelo BC a partir de estimativas de bancos e consultorias, a projeção da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano passou de 0,88% para 0,91%. Há um mês, a expectativa era de um crescimento de 0,87%.Essa mudança de humor foi captada em reportagem recente do Estado, na qual economistas de bancos informaram que estavam revendo para cima suas estimativas para o PIB deste ano. O Itaú, por exemplo, passou a esperar um crescimento de 1%, ante 0,8% na previsão anterior. Foi a primeira vez em três anos que o banco reviu para cima uma estimativa do PIB. Já o Safra, que projetava uma alta de 0,8%, passou a esperar 0,9%. “Pode parecer pouco, mas é uma diferença significativa. No fim de julho, esperávamos 0,8%, mas achávamos que podia ser até 0,5%. Agora, temos 0,9%, mas pode ser mais”, disse o economista-chefe do Safra, Carlos Kawall.O mercado parece acreditar que a ligeira recuperação detectada em diversos indicadores começa a ganhar impulso. Houve aumento da abertura de vagas formais no mercado de trabalho, que apresenta saldo positivo há seis meses, e também expansão de 14% na concessão de crédito para pessoa física, com impacto particularmente importante na construção civil.Tudo isso ainda está muito longe do otimismo verificado logo depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro. Na época, em razão das promessas de um choque de capitalismo, o mercado previa uma alta de até 2,5% do PIB neste ano. Em pouco tempo, contudo, a condução errática do governo minou a confiança dos investidores, que reduziram sua projeção para menos de 1%. A conjuntura atual parece apontar que a bonança finalmente chegou, depois de anos de tempestade causada pela aventura lulopetista e pela ausência de reformas.Tudo isso ainda é muito incipiente e não pode ser entendido como o fim da crise econômica. Há um longo caminho a ser percorrido para que se considere que o País está no caminho do crescimento sustentado.A atual recuperação é fruto de um trabalho que vem sendo feito desde o governo de Michel Temer, que em pouco tempo reverteu o desastre legado pelo estatismo patológico da presidente cassada Dilma Rousseff e deixou o governo razoavelmente em ordem para seu sucessor. Para isso, fez aprovar medidas saneadoras, como o teto dos gastos, a reforma trabalhista e a redução do subsídio ao juro cobrado pelo BNDES.A aprovação da abrangente reforma da Previdência foi continuação desse esforço – ainda que o governo Bolsonaro em muitos momentos tenha contribuído mais para sabotá-la do que para aprová-la.O pior inimigo do governo, nesse caso, é a tentação de entender o bom momento como oportunidade eleitoreira. A história mostra que não foram poucos os presidentes que aproveitaram períodos de expansão da economia para distribuir benefícios e subsídios a torto e a direito, na expectativa de ganhar simpatia e amealhar votos. Considerando-se que o presidente Bolsonaro já está em campanha pela reeleição, como atestam suas seguidas declarações como candidato, é lícito presumir que o processo de recuperação da economia corre o risco de, mais uma vez, ser comprometido em razão de imperativos eleitorais.Não se pode perder de vista que o País só começou a retomar o caminho do crescimento porque em algum momento fez a opção pela austeridade e pelas reformas. E esse ajuste ainda é muito tímido. O programa de privatizações ainda é tímido, e grande parte dos Estados está muito longe do equilíbrio fiscal necessário para que possa andar com as próprias pernas, sem necessidade de socorro federal. Além disso, não se sabe quais são as propostas do governo para as reformas tributária e administrativa, cruciais para o processo de retomada do desenvolvimento.O crescimento sustentado da economia não é tarefa de um só governo. Deve ser um projeto permanente de Estado, isto é, não pode ser interrompido a cada eleição para satisfazer os interesses imediatos do grupo político que está no poder.