País precisa de grande quantidade de materiais, mas fornecedores externos não atendem à demanda
Se já era crítica a disponibilidade de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde, a situação ficou ainda pior. Ontem o Ministério da Saúde informou que estão zerados os estoques após a distribuição de 40 milhões de itens a estados e municípios. O problema poderia ser sanado por meio de compras emergenciais, mas essa opção parece cada vez mais distante. O governo pretendia adquirir 720 milhões de materiais como máscaras, gorros, luvas etc. Porém, não há fornecedores — o mundo todo necessita desses insumos. Para agravar o quadro, mesmo as compras que pareciam encaminhadas estão caindo. Na China, nosso maior parceiro comercial e um dos países que conseguiram conter a epidemia, fornecedores se dizem sem condições de atender à demanda. Mesmo porque os Estados Unidos, onde a doença atingiu escala severa, se encarregaram de zerar os estoques. Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, os americanos mandaram 23 aviões à China para transportar o material. O problema não se resume aos equipamentos de proteção individual. Diz respeito também aos respiradores, fundamentais no tratamento dos casos graves da Covid-19, porque esses pacientes têm dificuldade de respirar. Como afirma Mandetta, “você pode ter o PIB do país e dizer: eu quero comprar. A fábrica não consegue te atender. O mundo inteiro também quer”. Tem-se, portanto, uma equação que parece não fechar. Por um lado, os equipamentos de proteção são essenciais para evitar que os profissionais de saúde se contaminem, o que já vem ocorrendo não só no Brasil, mas em todo o mundo — não à toa a categoria ganhou justo protagonismo devido à abnegação na luta contra a pandemia do novo coronavírus. É impensável que se possa deixar esses profissionais expostos. Por outro lado, como diz o ministro, mesmo que se tenha dinheiro, não se tem o produto, porque simplesmente não há quem o forneça.A equação só se resolverá com a ajuda da indústria nacional. O Brasil tem um parque diversificado, com capacidade para suprir demandas do país. Há setores que estão operando em ritmo reduzido, por motivos óbvios: medidas de contenção fecharam lojas, tiraram pessoas das ruas. Um microempresário de Juiz de Fora que está com a fábrica ociosa se ofereceu para produzir máscaras. Tem equipamentos e mão de obra. Precisava de matéria-prima. Ela começou a chegar por meio de doações, como mostrou o “Jornal Nacional”. Não há dúvida de que existem outros exemplos país afora. Por óbvio, Mandetta não deve se ocupar disso, mas o país tem um gabinete de crise, interdisciplinar, que pode coordenar esses esforços. Não se questiona a capacidade dos brasileiros em superar desafios.