Aumentar os gastos com saúde precisa ser a maior preocupação do governo nesta fase da epidemia
Em uma crise grave de abrangência e velocidade de propagação como esta, cada governo precisa definir prioridades, e se ele for de um país com as carências e desigualdades do Brasil, esta questão é ainda mais decisiva. Há diversas frentes pelas quais as dificuldades precisam ser enfrentadas, cada uma com características que merecem atenção, porém, não se deve colocar em dúvida que, em regiões ricas ou pobres em todo o planeta, o objetivo primordial deve ser atender os doentes, salvar vidas a qualquer custo. É um imperativo ético. No caso do Brasil, onde o alastramento da epidemia de coronavírus apenas começa a se refletir de maneira mais contundente nas estatísticas, ainda se está na fase de desenho e divulgação de anteparos criados na economia para proteger ao máximo empresas e empregos, sabendo-se que este é um trabalho de redução de danos, e também para que o ciclo de recuperação não demore. E seja forte o suficiente para repor empregos, logo, salários e renda, para tirar o comércio da depressão, reativando as encomendas às fábricas, com o reinício de um ciclo de recuperação. Mas há ações urgentes que precisam ser planejadas — se ainda não foram — e começarem a ser executadas, para atender à razoável parcela da população que vive em favelas, ou comunidades, em que chega a ser impossível seguir protocolos de precaução divulgados pelos governos. Em imóveis improvisados e pequenos, onde moram famílias numerosas, é impensável pensar-se em isolamento e quarentena, tampouco em maior proteção dos idosos. É por isso que as vielas e becos de favelas fazem com que o Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a cidade do Rio, apresente um índice de incidência de tuberculose de 65,7 por grupo de 100 mil habitantes, quase o dobro dos 33,5 da média do país. As portas estão abertas ao coronavírus. Assim como é essencial praticar uma quarentena rígida, para apressar o fim da progressão do vírus, é preciso transferir renda ao enorme contingente de trabalhadores informais, muitos deles moradores de favelas, e que são os mais vulneráveis aos efeitos da paralisação da economia. Tem de ser considerada, ainda, a distribuição regular de cestas básicas nas comunidades, incluindo produtos de limpeza e higiene, porque se trata, como todos reconhecem, de um momento de emergência nacional. O clima deve ser mesmo de guerra. Falta água em favelas, o que também impede o cumprimento do mantra corretamente repetido pelo governo: lavem as mãos. As perspectivas pessimistas mobilizam empresários a pedirem um “Plano Marshall” para a preservação de empresas. Por consequência, empregos, por meio de um programa equivalente àquele lançado pelos Estados Unidos com o fim da Segunda Guerra, para reconstruir a capacidade produtiva de uma Europa destroçada por bombardeios. O governo tem divulgado medidas nesta direção. Isso precisa ser considerado. É tudo questão de prioridade.