EDITORIAL DO JORNAL O GLOBO – Derrota de Salvini na Itália dá alento à resistência ao extremismo

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Candidata da Liga Norte perde eleição e dificulta projeto de poder do líder populista e xenófobo

O choque político-ideológico na Europa entre o renascido e crescente nacional-populismo de direita e as forças tradicionais de centro esquerda e centro direita que governaram o continente durante muito tempo — e continuam com espaço de poder na região, embora menor que no passado — se desdobra em vários embates. As duas visões de mundo — uma que defende o isolacionismo xenófobo e a outra, favorável à União Europeia e à globalização — se enfrentam com várias nuances. No Brexit (saída da Grã-Bretanha da UE), cujo plebiscito foi vencido pelo nacional-populismo, representado hoje pelo primeiro-ministro conservador Boris Johnson, houve o ingrediente da saudade do poder do Império britânico e funcionou, entre outros acenos ilusórios, o de que fechar o país, virar as costas a Bruxelas, levará Londres a trazer de volta o passado. Mesmo assim, o eleitorado britânico fez esta opção, por estreita margem, e terá de conviver com seus resultados.Em recente eleição na Espanha, o presidente do governo, Pedro Sánchez, do Partido Socialista (PSOE), venceu o pleito legislativo sem maioria para formar um gabinete. Conseguiu uma aliança improvável com catalães que lutam pela autonomia da região, da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), e com o Podemos, de esquerda radical. Assim, criou uma barreira contra a extrema direita. Algo como a “geringonça” portuguesa.Sucedem-se eleições que indicam a possibilidade de haver algum freio ao avanço da extrema direita no continente. No último fim de semana, o derrotado foi o homem forte do nacional-populismo italiano, Matteo Salvini, líder da xenófoba Liga Norte, e ex-vice-primeiro-ministro do governo de Giuseppe Conte, derrubado por ele.Não deu certo, mas Salvini se manteve na luta. No fim de semana, com a candidata da Liga, Lucia Borgonzoni, tentou conquistar o governo da Emilia Romana, região do Norte italiano, com longa tradição de esquerda. Uma vitória de Lucia daria forte impulso para Salvini retomar a marcha sobre Roma. Perdeu, porque Stefano Bonaccini, do Partido Democrático (PD), à esquerda, garantiu a reeleição por 51% dos votos contra 43% da candidata de Salvini. Nada está garantido para as tradicionais forças de centro, à esquerda ou à direita, fiadoras da estabilidade europeia e que patrocinam o projeto de integração no continente, estratégico para a democracia liberal, sob ataque no mundo. Porém, parece já ter sido mais fácil o crescimento do populismo e do nacionalismo extremos.

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