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EDITORIAL DO ESTADÃO – Forte retração do consumo de bens industriais

por Ornan Serapião
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O consumo aparente de bens industriais cresceu 0,7% no primeiro trimestre de 2020 na comparação com um ano antes. Esse resultado mostra um efeito ainda discreto da pandemia da covid-19, que só nas duas ou três últimas semanas do período considerado passou a afetar de modo sensível a atividade econômica e a vida dos brasileiros.

Na comparação dos 12 meses encerrados em março com o período anterior, o desempenho é semelhante, com crescimento de 0,2%, variação positiva, mas modesta para um setor que passou por séria crise em boa parte dos últimos anos.

Esses números, aferidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e publicados em sua mais recente Carta de Conjuntura, certamente serão bem mais sombrios nas próximas pesquisas.

Já em março o consumo aparente (soma da produção industrial destinada ao mercado interno com as importações) mostrava o forte impacto da pandemia sobre as compras internas de produtos industriais.

O consumo aparente de bens originários da indústria extrativa mineral teve queda de 7,4% em relação a fevereiro e o dos produtos da indústria de transformação mostrou redução de 12,4% em relação ao mês anterior.

No estudo do Ipea, é impressionante a queda em março em alguns setores da indústria de transformação. O consumo de veículos automotores, reboques e carrocerias caiu 34,3% em relação a fevereiro; o de máquinas e equipamentos, 24,5%; o de artigos do vestuário e acessórios, 32,1%; e o de móveis e produtos diversos, 19,0%.

Mesmo itens cujas vendas aparentavam ter explodido logo após o anúncio de medidas mais rigorosas de enfrentamento da pandemia registraram queda de demanda. São os casos de alimentos, cujo consumo aparente caiu 2,2%, e de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com queda de 5,2%.

A extensão do isolamento social em abril – com forte efeito sobre a atividade produtiva, as vendas do comércio, o nível de emprego e a renda das famílias – deve ter afetado os resultados daquele e dos meses seguintes. Isso poderá ficar mais claro à medida que os dados conjunturais compilados por diferentes instituições de pesquisa forem sendo divulgados. A queda da produção da indústria automobilística, de 99,3% em abril em relação à de um ano antes, antecipa alguns desses números.

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