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EDITORIAL DO ESTADÃO: Economia em modo de espera

por Ornan Serapião
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Atividade perde impulso em abril e maio e pode reagir, mas há muita incerteza sobre inflação, juros e contas públicas

Depois de um primeiro trimestre vigoroso, a economia recuou 0,64% em abril e ficou quase estável no mês seguinte, com mais uma perda de 0,11%, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Valorizado como sinalizador de tendência, esse é um dos indicadores usados como prévias mensais do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado oficialmente a cada três meses. Embora os dados de maio apontem uma economia em modo de espera, analistas do mercado financeiro estimam pequeno avanço no segundo trimestre e alguns têm elevado as projeções para o ano. Novos cálculos têm apontado para 2022 taxas de expansão na faixa de 1,5% a 2%. Mas a melhora esperada será passageira e 2023 será, de acordo com as previsões correntes, um ano de negócios em marcha lenta, com o PIB avançando cerca de 0,50%.

É muito cedo para dizer com alguma segurança como ficará a economia neste semestre, porque há fatores de incerteza muito importantes, como a disputa eleitoral, a política fiscal, o cenário externo, os juros e o câmbio. Os dados oficiais conhecidos até agora compõem um cenário de baixo dinamismo e grandes desajustes. Em maio, a produção industrial cresceu 0,3%. O resultado mensal foi positivo pela quarta vez consecutiva, mas o avanço acumulado nesse período foi insuficiente para zerar o recuo de 1,9% registrado em janeiro.

Ainda em maio as vendas no varejo aumentaram 0,1%, mas o volume foi 0,2% inferior ao de um ano antes. Em 12 meses o total vendido foi 0,4% menor que o do período imediatamente anterior. O resultado foi um pouco melhor no varejo ampliado. Este conjunto maior é formado pela soma dos oito ramos de comércio de consumo corrente com as lojas de veículos, seus componentes e materiais de construção. Neste grupo maior, as vendas cresceram 0,3% em 12 meses.

Em todos os casos, a alta de preços é bem marcada. No varejo restrito, as vendas acumuladas no ano, por exemplo, superaram por 1,8% as de janeiro a maio de 2021, mas a receita nominal foi 16,8% maior. Esse é um evidente efeito da inflação.

O melhor desempenho, de acordo com as últimas informações, foi o do setor de serviços graças, principalmente, ao avanço da vacinação e ao retorno das atividades presenciais, em restaurantes, lanchonetes, barbearias, salões de beleza, hotéis, ônibus e aviões. Em maio, o volume de serviços prestados foi 0,9% maior que o de abril e superou por 9,2% o de um ano antes. A receita nominal aumentou 1,6% no mês e foi 18,8% maior que a de maio de 2021. O aumento da receita, muito maior que o dos serviços prestados, evidencia também no caso dos serviços o impacto da inflação.

O rápido aumento de preços de bens e serviços diminui o poder de compra das famílias e enfraquece um dos principais motores da produção. A isso ainda se acrescenta, no entanto, a elevação dos juros, política usada pelo Banco Central para frear a inflação. O crédito caro afetará os negócios nos próximos meses e será preciso incluir esse fator em qualquer projeção da atividade econômica no segundo semestre e também no próximo ano.

Jornal o Estado de S. Paulo

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