A preocupação com a possível aproximação de uma segunda onda de contágios pelo coronavírus nos principais países abortou o processo de recuperação desenhado nos mercados domésticos, com reação da bolsa de valores e queda do dólar.
O temor de que eventual repique da pandemia agrave a crise econômica global azedou o humor dos investidores, que vinham animados com a desaceleração da propagação do coronavírus e a reabertura gradual de atividade nas economias centrais, principalmente da Europa.
Especialistas dizem que os investidores temem os riscos de uma segunda rodada de contaminação e seus efeitos negativos sobre a atividade, que poderia voltar à estaca zero, deixando para trás a perspectiva de recuperação. O ambiente de negócios no mercado, afirmam, só vai melhorar, com a volta do sentimento positivo dos investidores, quando houver uma indicação mais clara dos rumos da pandemia.
A atenção com o cenário de incertezas no exterior, em relação ao coronavírus, é dividida localmente, já que muitas regiões do País iniciaram a reabertura da economia, considerada precipitada por vários especialistas, o que poderia agravar o processo de propagação e transmissão da pandemia. Teme-se que uma retomada precoce de atividade gere mais incertezas e instabilidade ao mercado financeiro.
É nesse novo ambiente, com um olho pregado lá fora e outro aqui, que o mercado financeiro deve tocar os negócios, segundo especialistas, em ambiente de muita volatilidade, vale dizer, de intenso vaivém de cotações nos diversos mercados, de ações ao de dólar, passando pelo de juros.
A menos que ocorra uma piora nos cenários, externo e doméstico, as avaliações sugerem que, entre idas e vindas, a bolsa de valores dê continuidade à recuperação, que trouxe o Ibovespa (Índice Bovespa, principal índice da B3) acima de 90 mil pontos.
O Ibovespa fechou a sexta-feira em 92.795 pontos, após encostar em 98 mil pontos durante a semana. A perspectiva é que rume em direção aos 100 mil pontos, mas não se descarta também que, dependendo da evolução do cenário e diante da alta acumulada este mês, em torno de 6%, investidores vendam ações para materializar e embolsar os ganhos.
Em um horizonte que acena com turbulência e volatilidade, tanto pela pandemia como pela perspectiva de agravamento da recessão, local e global, a incursão na bolsa de valores no momento é sugerida pelos analistas apenas para que tem espaço a ser preenchido com ações em uma carteira diversificada que combina risco com conservadorismo.
Investimento em ações para tentar obter um retorno rápido em curto ou médio prazo é visto como contraindicado. Para períodos mais elásticos, afirmam, o investimento na bolsa, seja pela compra direta de ações, seja por meio dos fundos de ações, deve ter espaço assegurado na carteira do investidor, já que, com os juros no chão, a renda fixa perdeu atratividade.
A Bolsa de Valores de São Paulo encerrou a sexta-feira em queda de 2% e acumulou desvalorização de 1,95% na semana. A valorização no mês, até agora, está em 6,17%, mas no ano acumula perda de 19,76%.
A preocupação com possível rebote da pandemia de coronavírus, na esteira da reabertura de atividade econômica, deu fôlego ao dólar, ativo de proteção procurado pelos investidores em momentos de incerteza.
O dólar fechou sexta-feira cotado por R$ 5,05, com alta de 2,14% no dia e valorização de 1,20% na semana. A perda acumulada no mês está em 5,43%, até o momento.
Selic pode cair
Se o Banco Central (BC) alinhar-se às apostas do mercado financeiro, a taxa básica de juros, a Selic, cairá para nova mínima histórica, para 2,25% ao ano, esta semana. O rumo da Selic, que roda em 3% ao ano, será decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, na quarta-feira, dia 17, no fim da reunião do colegiado que começa na terça-feira.
A expectativa de um corte de 0,75 ponto porcentual no juro básico, em um cenário de uma inflação cada vez mais baixa, foi reforçada pelo IPCA, divulgado pelo IBGE na quinta-feira, que apontou uma variação negativa de preços ou deflação de 0,38% em maio.
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