Pastor da igreja Ministério da Fé, em Taguatinga, é acusado por quatro ex-fiéis. Caso chegou ao Ministério Público do DF
MINISTÉRIO DA FÉ/REPRODUÇÃO
MANOELA ALCÂNTARAmanoela.alcantara@metropoles.com
Uma das quatro mulheres que denunciaram o pastor Fadi Faraj por abuso sexual conversou com o Metrópoles nesta segunda-feira (21/10/2019). Por telefone, Isabela*, 27 anos, contou ter sido chamada por Fadi a uma salinha de oração da igreja Ministério da Fé, em Taguatinga, onde o pastor e líder do templo teria apalpado os seios dela sob o pretexto de “orar para livrá-la de um mioma”.
“Ele me chamou para fazer oração e eu fui na inocência. Chegando lá, ele orou, pegou nos meus seios e desceu para as genitais. Pegou na minha vagina. Saí correndo e nunca mais voltei àquela igreja”, disse.
A fiel diz ainda ter sentido muita vergonha. Segundo ela, o caso ocorreu em 2010, mas só agora, nove anos depois, ela teve coragem de denunciar Fadi. “Não quero que ninguém mais passe por isso. As pessoas têm medo de contar, mas precisam denunciar”, afirmou.Isabela faz parte de um grupo de quatro mulheres que frequentavam o Ministério da Fé e acusam Fadi Faraj de assédio e abuso sexual. Além dela, existem casos que ocorreram entre 2005 e 2010, mas só vieram à tona recentemente. Fadi, que é suplente do senador José Antônio Machado Reguffe (Podemos-DF), é chamado de “apóstolo”, o cargo mais alto do templo religioso no qual a irmã dele – a ex-deputada distrital Sandra Faraj (PTB) – também prega.“Ele pregava bem, pelo que me lembro. E tem uma questão de hierarquia. Tudo é muito estranho. Pastor nenhum deveria fazer isso. À época eu tinha entre 17 e 18 anos”, relatou Isabela, que hoje é manicure e não é mais praticante da religião evangélica. “Deixei de seguir por causa disso”, completou.A coragem da manicure de ir à Promotoria de Justiça de Taguatinga, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), no dia 22 de agosto deste ano denunciar o pastor surgiu quando ela conversava com outras duas amigas e o todas perceberam que tinham histórias parecidas. “Ele levava as meninas para essa ‘sala de oração’ e fazia essas coisas, além de propostas. A mim, ele perguntou: ‘Você gosta de sair?’ Eu disse que sim e ele me oferecer R$ 200 para sair com ele e ‘se divertir’”, contou.
Além dessas três, há outra denunciante: ela chegou a relatar os supostos abusos em vídeo gravado ao lado da mãe. Nas imagens, a moça narra ter passado por um ritual de “quebra de maldição”, no qual o tratamento era feito por meio de relações sexuais para “afastar os demônios que estavam no corpo dela”. A gravação foi feita em 2009, mas circulou na semana passada, quando o caso foi revelado pelo jornal O Livre, parceiro do Metrópoles em Mato Grosso. A reportagem também teve acesso ao material.
Veja o vídeo:
“Quebra de maldição”
No vídeo, a mulher conta que se batizou na igreja do DF em maio de 2005 e, cerca de dois meses depois, foi convidada pelo pastor a participar de uma conversa. Ela e a mãe foram ao primeiro encontro. “Ele pediu que eu preenchesse uma ficha de ‘quebra de maldição’. Primeiro, entrei com minha mãe. Depois, sozinha. Ele perguntou o que estava acontecendo. Eu disse que era mãe solteira, estava desempregada, morava com minha mãe e irmãos”, relata a mulher, na gravação.
A moça conta que os encontros ocorriam no “gabinete” de Fadi Faraj, o escritório dele na sede do Ministério da Fé, e que ela recebia livros e conselhos do pastor. Em uma das conversas, Fadi Faraj teria dito à mulher que ela estava “muito endemoniada” e precisaria de um tratamento “profundo”.
“Ele orou e começou a tocar meu corpo. Tocou meus seios. Depois, as partes mais íntimas. Disse que toda minha família ia ser libertada, que o problema estava em mim. Quando ocorreu a primeira relação dentro do gabinete, ele disse que o tratamento tinha que ser profundo, porque o demônio estava dentro de mim”, relata a moça.
De acordo com ela, os encontros duraram cerca de dois anos – de 2005 a 2007 –, inicialmente no escritório de Fadi Faraj. Depois, ocorreram em motéis. Os abusos, segundo a denúncia, aconteciam após o almoço, às terças e às quintas-feiras. De acordo com a fiel, Fadi a ajudava com o pagamento da escola para concluir os estudos e contribuía com quantias entre R$ 100 e R$ 200 quando eles se encontravam.
As investidas do apóstolo da igreja Ministério da Fé teriam cessado em 2007. Mas somente em 2009 – portanto, dois anos após o fim dos abusos –, quando a mulher ficou noiva e contou os possíveis abusos ao noivo, é que ela resolveu denunciar o caso. Segundo o vídeo, a situação teria sido levada a um Conselho de Pastores. “Eu achava que era para a quebra da maldição, que era pela minha família. Tinha pesadelos, era uma coisa diabólica”, disse.
Na sexta-feira (19/10/2019), Fadi Faraj afirmou ao Metrópoles que as acusações “são um absurdo, uma mentira”. “Meu Deus, não sabia dessas acusações. Só Deus vai saber por que estão fazendo isso contra mim”, disse.
Em 2018, Fadi Faraj concorreu ao Senado pelo DF. Ele ficou em quarto lugar, com 268.078 votos, mas não se elegeu. Ficou atrás de Leila do Vôlei, Izalci Lucas e Cristovam Buarque.
Operação Heméra
Fadi Faraj e a irmã dele, a ex-deputada distrital Sandra Faraj, foram investigados no âmbito da Operação Heméra (deusa grega da mentira), que apurou, em 2017, um esquema de uso irregular de verba indenizatória, além da suposta cobrança de parte dos salários de servidores comissionados nomeados pela parlamentar – ou por indicação dela e do irmão – na estrutura do Governo do Distrito Federal (GDF) e da Câmara Legislativa. Porém, o caso foi arquivado pela Justiça.
*Nome fictício a pedido da vítima