Docente do Instituto de Física da universidade, Márcia Barbosa celebra visibilidade e pede mais apoio às áreas de ciência e tecnologia
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Márcia Barbosa, professora da UFRGS, doutora em física e pesquisadora científica Gustavo Diehl / SECOM-UFRGS
A professora e pesquisadora Márcia Barbosa, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil em 2020, segundo lista divulgada nesta quarta-feira (4) pela revista Forbes. Anualmente, a publicação, focada em negócios e economia, elege personalidades de destaque em suas áreas, que vão da ciência ao empreendedorismo. Aos 60 anos, Márcia tem acumulado prêmios e distinções. Há um mês, antes de figurar no ranking da Forbes, a doutora em física foi reconhecida pela ONU Mulheres como uma das cientistas que impactaram o mundo com seus trabalhos – grupo que inclui Marie Curie, única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes, química e física. Em dezembro do ano passado, Márcia foi eleita para a Academia Mundial de Ciência – cinco brasileiros foram escolhidos para integrar a entidade.– É emocionante e é muito importante a sociedade reconhecer que a ciência é um instrumento de desenvolvimento. Não só a ciência, mas toda a parte de tecnologia e desenvolvimento precisa de mais apoio. Porque com pouco a gente já consegue fazer muito. Quem paga a pesquisa aqui é o povo, e o povo precisa saber o que estamos fazendo no laboratório. E o prêmio permite essa visibilidade – celebra Márcia. A pesquisa da cientista foca na água, o “líquido mais comum, abundante e necessário do planeta”. Márcia dedica-se a estudar as 72 anomalias da água, que podem levar ao desenvolvimento de novas tecnologias para serem usadas para resolver o problema da escassez desse recurso natural no mundo. Especializada no estudo das estruturas complexas da molécula do líquido, ela desenvolveu uma série de modelos para entender as propriedades da água – que apresenta comportamentos em que atua de forma diferente de outros materiais. Em um deles, por exemplo, Marcia empurra água salgada para um filtro com buracos em tamanho nano e observa que o líquido consegue passar, mas o sal não. Trata-se de um filtro de dessalinização que promete ser mais eficiente do que os atuais – o projeto ainda é teórico, mas está sendo produzido experimentalmente.
A gente está permitindo que aquela menina que sonha em ser alguma coisa, uma cientista, por exemplo, se enxergue assim, sendo uma mulher que tem voz”. MÁRCIA BARBOSA
Filha de gaúchos, Márcia nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para Canoas, na Região Metropolitana, aos quatro anos. Foi em casa, inspirada pelo pai eletricista da Aeronáutica, que descobriu o prazer de entender como as coisas funcionam. E foi na UFRGS que ela iniciou e construiu a carreira que hoje tem reconhecimento internacional.– Nasci acidentalmente no Rio de Janeiro porque meu pai era militar, mas toda a minha formação e onde construo minha carreira é aqui no Estado – afirma ela, em rápida entrevista com Donna.Além da atuação como pesquisadora, Márcia é uma ativista pela presença de mais mulheres em posições de destaque, especialmente na ciência.– Ainda somos minoria em várias áreas, temos percentual baixíssimo de mulheres no topo de suas carreiras. Na ciência, somos apenas 20% na graduação. Mas a gente está permitindo que aquela menina que sonha em ser alguma coisa, uma cientista, por exemplo, se enxergue assim, sendo uma mulher que tem voz – diz.Em 2017, a cientista foi finalista do 1º Prêmio Donna – Mulheres que Inspiram. Assista abaixo a entrevista em vídeo produzida com Márcia na ocasião: