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CONTOS E ARTIGOS DE LUIZ FERREIRA DA SILVA > AS LEMBRANCAS DA INFÂNCIA, CORURIPE, AL.

por Ornan Serapião
2 minutos para ler

Por Luiz Ferreira da Silva, 87

Até os 12 anos, vivi leve, solto e feliz pelas ruas sem calçamento da minha terra, correndo sob as bicas, aproveitando as águas das chuvas, sem gripar e fazendo os deveres escolares com a luz de um fifó”.
No quintal, aprendi a subir nas mangueiras, colher os ovos logo cedo, quando o galo tocava a alvorada e me deliciar de um “cozinhado” na sombra de uma frondosa fruta-pão, quando aos domingos me juntava a outros meninos da rua para preparar as iguarias ao céu livre numa panela de barro, sobre uma trempe improvisada.
No Grupo Escolar Inácio de Carvalho, a aprendizagem da Pátria Amada, cantando com a mão no peito, antes de entrar nas classes, o Hino Nacional, o Hino da Independência ou o Hino da Bandeira.
No São João, armar as fogueiras e buscar um mastro na mata dos tabuleiros, espocando os traques de chumbo e assando o milho empalhado nas brasas vivas, sob um calor infernal.
No Natal, os bazares com brinquedos de galalite, o balançar nos barcos, a roupa nova e o sapato fazendo calos; a missa do galo, campal, da Igreja Nossa Senhora da Conceição.
De vez em quando, aos domingos, um banho de mar, quando meus pais se decidiam por um piquenique sob os coqueirais da praia do pontal, enfrentando 6 km por uma estradinha lateral ao manguezal rico em caranguejos peludos, aratus vermelhos e belas jaçanãs. Era um percurso estafante, sobretudo na volta, mas eu gostava e nunca reclamei.
Marchar no 7 de setembro, após aprender a “direita volver”, com a farda impecável e os sapatos lustrados, puxado por um corneteiro, duas caixas e um tarol, é outra lembrança que me cravou na alma.
Jogar nas ruas, uma pelada com bola de meia ou uma couraça costurada por nós mesmos, levantando poeira e lascando o dedão do pé nos pedregulhos do improvisado “maracanã”, era um lazer preferido pela maioria.
Descer a ladeira do bode em carrinhos de rolimã produzia uma sensação inigualável e ninguém chorava quando se machucava numa manobra arriscada que causava danos em ambos.
Comer frutas tiradas do pé; descascar cana caiana; assar castanhas de caju, fazer rosários do coquinho Ouricuri e tomar caldo de cana na feira davam o tom da interação com o meio ambiente.
O dia todo ocupado com a responsabilidade nos estudos e as atividades para crescimento do corpo e da alma, sem estresse e muito feliz, seguido de uma noite de paz, recolhendo-se antes das 21 horas.
Em síntese, um outro mundo. Nada comparável ao atual, eivado de TV, celular, shoppings, fast food e coca cola. Qual o melhor? (09-11-2024)

Para contactá-lo: luizferreira1937@gmail.com

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