Por Luiz Ferreira da Silva, 87
Luizferreira1937@gmail.com
A cacauicultura baiana sempre viveu em crises e os produtores
recorrendo aos bancos para saldar suas dívidas, por diversos motivos, incluindo preços ditados por agentes internacionais, sem que possam dar um pio, quando
são eles os protagonistas principais.
No entanto, nunca se soube de uma crise nas indústrias chocolateiras lá dos países maravilhas, ricos e gestores dos produtos agrícolas produzidos pelos países pobres. A Mars, a Nestlé, a Cadbury e tantas outras sempre faturaram
sem quaisquer óbices.
Então, prezado leitor, concluo: “CULTIVO PRODUZIDO POR POBRES
PARA OS RICOS SE REFASTELAREM”, NÃO É UMA BOA LABUTA
AGRÍCOLA”. Desequilíbrio com a gangorra sempre pesada para os produtores.
Enquanto isso, os suíços e belgas que jamais viram um pé de cacau, enchem os bolsos de euros com o suor dos morenos peões sul baianos . E os nossos ricos ainda contribuem com a aquisição de chocolates finos alienígenas.
Como alterar essa equação tão cruel para quem produz?
Em 1970, estive em Chigorodó, Colômbia, que estava implantando um polo cacaueiro, visando suprir o se déficit de consumo. O país produzia 15.000
toneladas e importava outras tantas para satisfazer a sua demanda.
Mas não se comia chocolate, porém se bebia chocolate. Eu disse
chocolate, ou seja, xícaras com “suco” de sustança, e não toddy ou achocolatado
que, de cacau, só tem o cheiro.
Então, Brasil Varonil, vamos beber chocolate, iniciando um projeto
estratégico de consumo interno, na expectativa de, em 10 anos, mudar a atual
matriz de comercialização do cacau.
Inicialmente, ações do governo via CONAB, abastecendo as merendas
escolares; as rações das forças armadas; as repartições públicas. Em
consonância, campanhas de estímulos ao consumo da bebida e incentivos às
fabriquetas de chocolate com cacau produzido no país, mesclando as amêndoas
baianas com as da Amazônia, aproveitando algumas características diferenciais.
Jamais importação para “blended”.
E dessa maneira, os produtores iriam se organizando comercialmente
através de cooperativas ou grupos associativos, passando de simples figurantes,
como dantes, à condição de atores principais; artistas, de fato e não “bandidos”,
como os das fitas de meus tempos do cine-ideal, 1950. (Maceió, 27.04.2024).
*LUIZ FERREIRA DA SILVA (luizferreira1937@gmail.com), é Pesquisador aposentado na empresa CEPLAC, Estudou na instituição de ensino UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mora em Maceió e colabora com este site.