É difícil compreender como a humanidade, dotada de tanta capacidade cognitiva e tecnológica, avança na destruição de sua própria existência no planeta. Talvez isso seja fruto não de uma decisão consciente, mas de uma ignorância histórica — um padrão de negligência com a preservação ambiental, o consumo desenfreado e a produção excessiva — transmitido de geração em geração. Ainda persiste uma visão distorcida de que os recursos naturais são inesgotáveis.
Historicamente, o ser humano se posicionou como o centro do universo. Sua arrogância o levou a acreditar que o sol girava em torno da Terra; mais que isso, cultivou a ilusão de que a natureza existe para servi-lo e se dobrar aos seus desejos. Essa ideia de dominação se reproduz nos modelos de produção e consumo presentes na sociedade atual.
Você já parou para pensar por que a maioria dos produtos que compramos estraga com facilidade, bem diferente daqueles que adquiríamos no passado? O nome disso é obsolescência programada — uma estratégia industrial que determina a vida útil dos produtos, tornando-os inoperantes em um curto espaço de tempo. Trata-se de um mecanismo que impulsiona o consumo contínuo, estimula a geração de resíduos e reforça a ideia de que o novo precisa substituir o funcional.
Esse modelo, ao invés de promover o progresso, consolida uma lógica de insustentabilidade, em que o trabalho serve à manutenção do consumo, e não à realização humana. E isso me remete a um ditado popular: “estamos o tempo todo perseguindo o próprio rabo”. O indivíduo é incentivado a produzir cada vez mais para adquirir objetos que, muitas vezes, nem precisa — e que, em breve, serão descartados.
Não se trata de irracionalidade, no sentido estrito, pois mesmo os animais irracionais não produzem resíduos que coloquem em risco sua existência. Ao contrário, muitas espécies demonstram uma relação equilibrada e consciente com a natureza — diferentemente do ser humano, que parece ter se distanciado desse senso de pertencimento e responsabilidade.
Como interromper esse processo? A resposta talvez não seja simples nem imediata. Mas talvez comece exatamente aqui: na reflexão crítica, no debate constante, na ampliação da consciência coletiva — para que esse grito alcance cada vez mais pessoas. Enfrentar o dilema da obsolescência programada não é apenas um desafio técnico ou de engenharia, mas, sobretudo, uma escolha ética e civilizatória. É uma decisão urgente em favor da vida e da construção de uma sociedade que valorize não apenas o progresso, mas a permanência da própria espécie no planeta.
Willian Corrêa é correspondente do Diário do Poder nos Estados Unidos.