Por Walmir Rosário*
No início de 2007 me deparei com o então prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, no aeroporto de Congonhas. Eu vinha de Joinville, após passar uns dias com os filhos; ele de Brasília, onde tinha ido prospectar recursos para a cidade. Estava com uma gripe violenta e disse ter passado a noite em São Paulo, por não ter chegado a tempo do último voo para Ilhéus.
E o motivo não foi um simples atraso, segundo ele, pois o avião em que saiu de Brasília para fazer a conexão com o que iria a Ilhéus apresentou alguns problemas, chegando a São Paulo fora do horário previsto. A alternativa possível seria passar a noite na capital paulista e retomar a viagem no primeiro horário do dia seguinte. Não tinha outro jeito.
Apesar da dificuldade em falar, causada pelas constantes tosses e rouquidão, estava encantado com a atual fachada dos prédios da capital paulista, livre dos anúncios publicitários que tornava feia a paisagem. É que poucos dias antes, o então prefeito da Paulicéia, José Serra, travou uma guerra contra a poluição visual dos anúncios.
De pronto, não ficou um letreiro luminoso – ou não –nas fachadas dos arranha-céus. Outdoor, nem pensar. “Adeus poluição visual”, comemorava Fernando Gomes, elogiando a coragem e determinação do seu colega paulista em tomar uma medida drástica, contrariando o poderoso segmento publicitário paulista, o maior do Brasil.
Enquanto Fernando Gomes falava eu notava um brilho nos seus olhos, apesar de marejados com as lágrimas derramadas pelo mal-estar da forte gripe, ou da estranha virose, conforme tinha diagnosticado o pneumologista na noite passada. Assim que a tosse aliviava, ele voltava a puxar a conversa, sempre focada para o novo aspecto visual de São Paulo, capital.
Lá pelas tantas, me garantiu que assim que chegasse a Itabuna convocaria o Procurador-Geral e os secretários da Administração e Indústria e Comércio para uma reunião, na qual proporia ação uma ação idêntica tomada pelo colega José Serra em Itabuna. “Nosso centro da cidade está muito feio, com aquelas placas de publicidade horríveis e que não condizem com a magnitude de Itabuna”, ressaltava o prefeito.
Já nos preparávamos para embarcar num determinado portão, quando tivemos que tomar outro rumo, devido à mudança do local de estacionamento da aeronave. Fernando Gomes não se conteve e foi tomar satisfação com o pessoal da TAM, para saber qual o verdadeiro motivo da transferência repentina. Seria algum problema na aeronave? Perguntava.
Só aí, então, Fernando Gomes mudou de assunto, contando que se não fosse pelo seu agravado problema de saúde, ele abortaria sua viagem nesse voo, que passou a desconfiar de algum problema à vista. Embarcamos no ônibus que nos levaria ao avião e ele passou a me relatar uma situação desagradável que vivera anos antes num voo da Varig.
Teria saído de Brasília para Ilhéus com escalas previstas em São Paulo e Rio de Janeiro. Ele optou por esse voo com a esperança de chegar mais cedo, pois o próximo só sairia 6 horas depois. E como precisava chegar cedo a Itabuna, onde assuntos urgentes lhe aguardavam. Logo chegou a Congonhas e mudou de aeronave, essa com escala no aeroporto Santos Dumont e, em seguida, Ilhéus. Nem desceria do avião.
Assim que chegaram ao Rio de Janeiro foram comunicados que o avião entrara numa pequena pane e que logo retornariam a bordo. Cerca de quarenta minutos depois voltaram a embarcar na mesma aeronave. Assim que decolaram estoura uma turbina, e passaram uns 45 minutos rodando para derramar o combustível, aumentando a segurança do pouso.
Apesar de uma só turbina funcionando, o avião pousou com tranquilidade. Em terra, ambulâncias carros de bombeiros junto à pista, completavam a segurança, embora não precisaram intervir. Mais uma vez teriam que remarcar as passagens, no balcão da Varig, marcada pela enorme fila que se formara pelos assustados passageiros.
Assim que Fernando Gomes recebeu a nova passagem e as orientações sobre o novo voo, disse sentir seu coração avisando; “Não vá nesse voo”. De pronto, falou com a atendente que não embarcaria e queria sua bagagem – já despachada desde Brasília – de volta. E ninguém conseguiu lhe convencer. Iria por terra, alugaria um carro e ele mesmo dirigiria.
Na locadora alugou um automóvel JK, da Alfa Romeu, por Cr$1.500,00 (dinheiro da época) e partiu. Quando estava chegando em Campos, mais um problema: tomba o carro. Chama uns homens e lhe ajudam a desvirar o carro e desamassar o teto. Como não tinha sofrido cortes nem se machucado, toca a viagem até Vitória, onde dormiu. Na tarde do dia seguinte chega a Itabuna.
Já o avião que recusou viajar chegou ao aeroporto de Ilhéus uma hora e meia depois, sem ele, é verdade, pois seu coração não o deixou continuar a viajem. Já o nosso voo de São Paulo a Ilhéus chegou após duas horas de percurso sem qualquer problema, permitindo a Fernando Gomes uma consulta ao seu médico de confiança.
Quanto a seguir o projeto do colega José Serra, ficou para outra oportunidade.
*Radialista, jornalista e advogado