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ARTIGO – Alexandre Garcia: “Mesmos confinados, temos que nos mexer, como o país”

por Ornan Serapião
3 minutos para ler

”Ainda que estejamos confinados, sempre há espaço para nos mexer. Assim é o país; parado, enferruja e vai para o ferro-velho. Mesmo confinados, temos que nos mexer, como o país”

AG Alexandre Garcia

(foto: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

Nasci em 1940; sou, portanto, um coroa entrando no nível mais alto do grupo de risco, no ano do meu 80º aniversário. Já estou em casa há duas semanas, e muito feliz, porque a casa da gente é o melhor lugar do mundo. Ligo-me ao mundo exterior pelas modernidades digitais de informação e pelo jornal impresso que me chega pela manhã. Pelo telefone, recebo as preocupações dos amigos, que me parecem muito assustados. Queixam-se de suores, taquicardia, falta de apetite; pensam que o mundo vai acabar, que todos vamos morrer da Covid-19. Parece que estão num mundo diferente do meu.Concluo que estão permitindo que os assustem. A TV pode ser boa ou má companhia. Hoje não sei o que é, porque faz muitos anos que não vejo TV. Nada contra; passei 40 anos trabalhando nela. É apenas falta de tempo para ficar sentado diante de uma tela. Tenho trabalhado muito em casa e, quando me sobra tempo, é hora do prazer da leitura, pois ainda há muito livro por ler. A obrigação de estar bem informado não afasta a necessidade de ter tempo de prazer e tempo de manter a forma física. E o apocalipse viral não consegue varar meus filtros. Além disso, meus caros companheiros de cabeças coroadas por cabelos brancos, ficar parado enferruja. Ainda que estejamos confinados, sempre há espaço para nos mexer. Assim é o país; parado, enferruja e vai para o ferro-velho. Mesmo confinados, temos que nos mexer, como o país. Então, não nos esqueçamos de valorizar os que estão trabalhando por nós e para nós; graças a eles, podemos ficar em casa protegidos. São os que plantam e colhem, que produzem nossa carne, leite e pão, os que transportam e põem à venda; os que trazem nossa comida e nossos remédios até nossa casa; que operam e fazem manutenção de nosso mundo digital; que cuidam da entrada de nossos condomínios, que estão de plantão para cuidar de idosos como nós. Se os obrigássemos a parar, morreríamos de fome e de isolamento. Cuidemo-nos, pois, mas sem o medo que enfraquece nossa imunidade. Evitem esse vírus da ameaça que quer nos pôr de joelhos e enfraquecer o país. Desconfiem da democracia de quem se aproveita para confundir e atrapalhar; desconfiem da democracia de quem não aceita resultado de eleição; desconfiem de quem aposta na mortandade e na paralisação da economia; de quem se associa ao coronavírus para buscar o caos da depressão, sem se importar com a perspectiva da fome e do desespero, que tornam selvagem o mais civilizado dos homens. Nós, coroas, já vimos tanto, não é? Sabemos dos perigos do coronavírus, mas também dos outros perigos. Se os mais jovens nos protegem do corona, nós, coroas, podemos retribuir alertando os mais jovens, menos vividos e menos experientes, sobre os vírus oportunistas.

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