Subiu para 18 o número de mortos nas manifestações no Peru que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte. “Até esta hora da noite (22h locais, 0h00 em Brasília), confirmamos 17 mortos em Puno durante confrontos com as forças da ordem nas imediações do aeroporto de Juliaca”, disse uma fonte da Defensoria do Povo. Esse foi o dia mais letal desde que os protestos começaram no dia 7 de dezembro, quando o então presidente Pedro Castillo tentou dar um golpe de estado e foi deposto, o que fez com que a vice assumisse o cargo presidencial. Desde então, o país tem sido marcado por centenas de manifestações que clamam por mudanças e eleições gerais, que foram adiantadas para 2024. Entre os mortos está uma recém-nascida. Cerca de 40 feridos foram registrados. Com o novo balanço, o número de óbitos nas manifestações contra o governo chega a 39 em quase um mês de protestos. As vítimas apresentavam no corpo impactos de projéteis, detalhou um representante do hospital Carlos Monge, para onde foram levadas, em declarações ao canal N de televisão. “O que está acontecendo é uma matança entre peruanos. Peço-lhes calma, não se exponham”, exclamou o prefeito de Juliaca, Oscar Cáceres, em um apelo desesperado à população, em entrevista à rádio local La Decana. Na segunda, mais de 9 mil pessoas se aproximaram do aeroporto de Juliaca e cerca de duas mil iniciaram um ataque sem trégua contra a polícia e as instalações, usando armas improvisadas e com dupla carga de pólvora, gerando uma situação extrema, informou o chefe de gabinete, Alberto Otárola, à imprensa. Enquanto o país está mergulhado em uma grave crise institucional e política marcada por manifestações e bloqueios de estradas, o governo de Boluarte proibiu na segunda, até nova ordem, o ingresso no Peru do ex-presidente boliviano Evo Morales, “por intervir” em assuntos da política interna do país. “Foi decretado o registro de impedimento de entrada no país, através de todos os postos de controle migratório, de nove cidadãos de nacionalidade boliviana, entre os quais se inclui o senhor Juan Evo Morales Ayma”, anunciou o Ministério do Interior, referindo-se ao ex-líder político que vem expressando seu apoio aos protestos contra o governo de Dina Boluarte.
O anúncio contra Morales coincide com novos protestos e bloqueios de estradas em seis das 25 regiões do país, onde manifestantes exigem a renúncia de Boluarte, a convocação de uma Assembleia Constituinte e a liberdade do presidente deposto Pedro Castillo. “Nos últimos meses, foram identificados cidadãos estrangeiros de nacionalidade boliviana que ingressaram no país para realizar atividades de caráter político proselitista, o que constitui uma clara afetação da nossa legislação migratória, da segurança nacional e da ordem interna do Peru”, acrescentou o ministério do Interior, ao justificar a decisão. Presidente da Bolívia entre 2006 e 2019, Morales tem uma presença ativa na política peruana desde que o agora ex-presidente esquerdista Pedro Castillo assumiu, em julho de 2021, até sua destituição, no começo de dezembro. Em novembro, ele visitou Puno, região aimara peruana na fronteira com a Bolívia, tornou-se epicentro dos protestos, com uma paralisação por tempo indeterminado desde 4 de janeiro. De lá, organiza-se uma marcha até a capital, Lima, que deve começar a chegar no dia 12, segundo convocações de diferentes coletivos sociais, que reúnem sobretudo camponeses.