Rússia e China vetaram a resolução proposta pelos Estados Unidos para um cessar-fogo “imediato” em Gaza, apresentada nesta sexta-feira, 22, no Conselho de Segurança da ONU. O embaixador russo classificou como um texto “hipócrita” que não apela diretamente ao silenciamento das armas. O projeto de resolução dos EUA, que sublinha a “necessidade de um cessar-fogo imediato e duradouro” vinculado à libertação dos reféns, recebeu 11 votos a favor, três contra (Rússia, China e Argélia) e uma abstenção (Guiana). “China e Rússia simplesmente não quiseram votar a favor de um projeto elaborado pelos Estados Unidos, porque prefeririam ver-nos fracassar do que ver o Conselho ter sucesso”, criticou a embaixadora americana Linda Thomas-Greenfield, denunciando uma decisão “cínica”. Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro, os americanos se opuseram sistematicamente ao uso do termo “cessar-fogo” nas resoluções da ONU, bloqueando três desses textos. No final, porém, decidiram colocar à votação nesta sexta-feira um texto que apontava “a necessidade de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todos os lados, para permitir a entrega de ajuda humanitária essencial”. “Com isso em mente, (os Estados Unidos) apoiam inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais para alcançar esse cessar-fogo, juntamente com a libertação de quaisquer reféns ainda detidos”, acrescenta a proposta de resolução.
Ambíguo
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, chamou o projeto de “exercício retórico vazio” que contém um “sinal verde para Israel realizar uma operação militar em Rafah”. “Embora Gaza tenha sido praticamente varrida do mapa, o representante americano, sem pestanejar, nos garante que Washington reconhece a necessidade de um cessar-fogo”, disse ele. O seu homólogo chinês, Zhang Jun, classificou o texto como “ambíguo” e “desequilibrado”, uma vez que “impõe condições para o cessar-fogo”. O projeto de texto dos EUA também condenava “todos os atos de terrorismo, incluindo os ataques do Hamas de 7 de outubro” contra Israel. Teria sido a primeira vez que o Conselho de Segurança condena especificamente estes ataques sem precedentes, que mataram pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Outra resolução
As duas resoluções humanitárias adotadas pelo Conselho, assim como as da Assembleia Geral, não mencionaram o Hamas, uma ausência sistematicamente condenada por Israel. Após a rejeição do texto dos EUA, fontes diplomáticas disseram que um texto alternativo elaborado por vários membros não permanentes do Conselho provavelmente seria submetido à votação no final do dia. O texto, ao qual a AFP teve acesso, “exige um cessar-fogo humanitário imediato para o mês do Ramadã” e a libertação imediata de todos os reféns, enquanto a ofensiva israelense ceifou quase 32 mil vidas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. O resultado da votação deste texto é incerto. O Conselho, há anos muito dividido sobre a questão israelense-palestina, só conseguiu adotar duas resoluções sobre o assunto desde 7 de outubro, principalmente de natureza humanitária. E os resultados foram escassos: a ajuda a Gaza continua sendo em grande parte insuficiente e a fome se aproxima. Várias outras resoluções políticas foram rejeitadas pelos vetos americanos, por um lado, e pelos vetos russos e chineses, por outro, ou por um número insuficiente de votos. (JP)