São Paulo — Debaixo sol forte, milhares de manifestantes ocuparam até dez quarteirões da Avenida Paulista, na tarde deste domingo (25/2), no ato de apoio a Jair Bolsonaro (PL), convocado pelo ex-presidente após a operação da Polícia Federal (PF) que investiga um suposto plano de golpe de Estado, que teria sido tramado em 2022. A aglomeração ficou mais concentrada em quatro quarteirões, nas proximidades do local onde estava o trio elétrico usado por Bolsonaro para discursar, perto do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Segundo a Polícia Militar (PM), a manifestação reuniu 600 mil pessoas na Avenida Paulista, e 750 mil considerando as ruas adjacentes. Ônibus fretados, inclusive de outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Grais, vans e carros lotados começaram a chegar nas proximidades da Avenida Paulista ainda pela manhã, embora o ato estivesse marcado apenas para as 15h.
Antes das 13h, todo o quarteirão em frente ao Masp estava tomado, enquanto os manifestantes se refrescavam com água, cerveja e xeque-mate — bebida que fez sucesso no Carnaval — vendidos por ambulantes na rua. O Masp não funcionou neste domingo por causa da manifestação. No trio elétrico em que Bolsonaro discursaria tocou repetidamente uma versão eletrônica do funk “Baile de Favela”, enquanto um locutor apresentava os convidados que chegavam. O público atendeu ao pedido feito por Bolsonaro e evitou faixas com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou ao ministro Alexandre de Moraes, assim como também não havia pedidos de intervenção das Forças Armadas, como ocorreu na manifestação de 7 de Setembro de 2021.
Desta vez, além das bandeiras do Brasil e dos slogans bolsonaristas, como “Deus, pátria e família”, chamou a atenção o enorme número de bandeiras de Israel, pais que vive uma crise diplomática com o governo Lula por causa da declaração do presidente brasileiro comparando as mortes de civis palestinos por militares israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto, que foi o extermínio de judeus pelo exército nazista na Segunda Guerra Mundial. Em alguns momentos, grupos isolados gritavam “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” e xingavam apoiadores do presidente. Entre as rodas de conversas, a guerra na Faixa de Gaza foi um dos assuntos mais ouvidos pela reportagem. Muitos manifestantes passaram mal diante do forte calor — os termômetros de rua ultrapassaram os 30ºC. Marquises de prédios e sombras dos guarda-sóis dos ambulantes eram espaços disputados. Mais de uma vez, figuras como o pastor Silas Malafaia e os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) tiveram de interromper seus discursos para pedir que policiais e bombeiros socorressem pessoas que não estavam se sentindo bem. O Metrópoles presenciou uma mulher sendo carregada por policiais, próxima dos gradis que separavam o público da área reservada para os trios elétricos de Bolsonaro e seus convidados. Do alto do trio elétrico, apoiadores do núcleo mais próximo ao ex-presidente jogavam copos d’água lacrados para os manifestantes que estavam acompanhando do chão se hidratarem. Nas barracas de ambulantes, garrafas de 500 ml de água eram vendidas a preços entre R$ 5 e R$ 8. A reportagem viu apenas duas viaturas do Samu nas proximidades da Paulista. Ao fim do ato, Bolsonaro pediu uma salva de palmas aos policiais militares que estavam em serviço na Paulista. Os manifestantes, que celebravam cada vez que o helicóptero da PM sobrevoava o local, aplaudiram. Dois bombeiros subiram no trio elétrico e posaram para fotos ao lado de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na dispersão, o metrô Trianon-Masp estava com as entradas fechadas e os manifestantes tiveram de se dirigir às estações Consolação e Brigadeiro. Na Brigadeiro, havia uma fila de quase um quarteirão para entrar na estação.