Primeira trans a participar do Look of The Year, Carolina Leone chegou como favorita à competição, mas foi outra brasiliense quem venceu
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
ILCA MARIA ESTEVÃOilca.maria@metropoles.com
Considerada uma das maiores top models da atualidade, a brasileira Gisele Bündchen dispensa apresentações. Contudo, antes de se tornar uma lenda das passarelas, a gaúcha de Horizontina recorreu a um dos maiores concursos de modelos do mundo para ganhar visibilidade no mercado. Vinte e cinco anos depois, o Look of The Year ainda é responsável por lançar grandes nomes no circuito internacional. Duas brasilienses que se destacaram na edição 2019 da disputa têm, agora, a chance de trilhar o mesmo caminho que a maior modelo do Brasil.Vem comigo saber mais!
Desde que as finalistas do Look of The Year 2019 foram anunciadas, a brasiliense Carolina Leone foi apontada como uma das favoritas da edição. Primeira mulher trans a participar do concurso, a publicitária de 24 anos chamou atenção dos organizadores por sua desenvoltura e rosto expressivo.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
No entanto, durante a final da etapa nacional, que aconteceu em São Paulo, em 21 de novembro, foi outra concorrente do Distrito Federal que surpreendeu a todos e acabou levando a melhor na disputa. Graziella Curvel, de 17 anos, saiu do P Sul, na Ceilândia, para ser eleita o visual do ano pela Joy Model, agência responsável pelo LOTY e pela carreira de nomes como Lais Ribeiro, Valentina Sampaio, Aline Weber e Daiane Conterato.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
Com a vitória, a estudante de medicina veterinária agora mira na etapa internacional do concurso, mas, segundo Liliana Gomes, diretora da Joy, o mais importante já aconteceu. “Reunimos aqui no Brasil profissionais de vários países, além de clientes, fotógrafos, editores de moda, jornalistas e estilistas de nosso país. Apenas com essa visibilidade já é possível viabilizarmos uma carreira para ela”, afirma a empresária.Graziella agora terá representação de carreira nacional e internacional, material fotográfico e uma rotina de formação, castings e trabalhos.“Ela acabará o semestre da universidade, se mudará para São Paulo e fará alguns ajustes, como um novo corte de cabelo. Por ser uma estudante, tinha cuidados esporádicos, mas, chegou a hora de evoluir nesse aspecto, com exercícios físicos e uma alimentação saudável. Estudar inglês para poder começar a trabalhar fora do Brasil também é uma prioridade”, explica Liliana.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
Para a scouter, a jovem é uma pedra preciosa e tem chances de alçar grandes voos nas passarelas internacionais. “As modelos vão se tornando mais bonitas do que as que já existiram, afinal, estamos todos em um constante processo de evolução e miscigenação. No Brasil, essa miscigenação é uma riqueza cultural que faz da beleza brasileira uma das mais buscadas no mercado”.Por lembrar a baiana Adriana Lima, Liliana acredita que ela deve agradar, mas salienta que tudo depende do esforço pessoal de Graziella. “Os próximos passos são a força de vontade para construir a carreira que visualizamos para ela”, relata.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
A representativa vitória nunca passou pela cabeça da brasiliense. “Estava pensando mais nas aprovações dos castings internacionais que fizemos. Muitas meninas queriam o título, então, eu realmente não esperava. Talvez a mistura de olhos verdes e cabelo cacheado tenham conquistado o júri”, imagina a estudante.No momento, para seguir a meta fashion, a graduação fica em segundo plano. “Vou parar por enquanto. Ainda estou no começo do curso, posso recomeçar em outro estado. Vou focar na carreira de modelo”, entrega.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
O sonho de se tornar uma profissional das passarelas começou ainda cedo, quando Graziella observava os passos de sua irmã mais velha, que já trabalhou na área. O amor pela moda, todavia, vem de muito antes.“Minha relação começou quando eu ganhei minha primeira e única Barbie, aos 11 anos de idade. Adorava criar roupinhas com retalhos de tecido e costurava desde nova. Via os looks nas revistas e fazia para a boneca. Isso quando tinha uns 12 anos. Mais nova, eu amava mesmo era jogar bola”, lembra.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
Em Brasília, a estudante até procurou algumas agências, mas as más experiencias de sua irmã acabaram respingando em seus sonhos. “Minha mãe tentou me levar em agências ainda bebê, mas o dinheiro era um problema. Como minha irmã também já tinha tentado a carreira, mas deu o azar de encontrar alguém que não era profissional, minha mãe se desiludiu. Não me apoiava muito, com medo de algo acontecer. Eu pegava alguns trabalhos, mas coisas pequenas.”Em São Paulo desde a final do Look of The Year, a modelo não tem data para voltar a Brasília, mas diz que deve retornar à cidade em breve, para visitar a família, que mora no P Sul. “Ficará mais complicado, porque a agenda está enchendo por aqui. Porém, sempre conseguimos tempo para família”, garante.
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/@G_CURVEL
Carolina Leone pode não ter ficado entre as três primeiras colocadas no concurso, mas já colhe os frutos de sua participação. Liliana afirma que a publicitária já tem propostas para viajar para Nova York, Milão, Paris e Londres, mas, antes, precisa dar uma evoluída no inglês.“Se destacar nesta profissão é uma questão de personalidade e força de vontade. Além de bonita, Carol é muito inteligente. Tem uma ótima atuação em vídeo e se expressa bem. Já tem uma formação universitária, é madura, já é uma mulher formada. Ela já virá para São Paulo em janeiro e temos bastante a desenvolver com ela. A vejo fazendo moda, mas também coisas ligadas ao vídeo e fotografia. Acho o rosto perfeito. As agências internacionais também gostaram, mas começaremos pelo Brasil”, adianta a empresária.
DIVULGAÇÃO/JOY MODEL
Não poderíamos concordar mais com Liliana. Durante a edição 2019 do festival Coma, pudemos conhecer Carolina Leone de perto e, de fato, a jovem chama atenção por sua beleza, estilo e carisma. À coluna, ela conta que a presença na disputa foi de extrema importância, não só para ela, mas toda a população trans.“Foi muito importante participar, por conta da representatividade. Eu fui a primeira trans a estar lá e era algo que faltava, porque, cada vez mais, há espaço para nós no mercado. Eu não esperava que fosse chegar nem à segunda etapa, imagina ir até a final. Fui sem muita esperança, mas, quando passei as fases, adquiri confiança e vi que era possível ganhar. Havia meninas de todos os perfis, mas comecei a me ver como parte daquela diversidade”, relata.
RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
No momento, Carolina se dedicará a única coisa que a separa de sua nova carreira. “Eu já fiz inglês, mas preciso praticar a conversação. Acho que estou bem preparada, até consegui ajudar algumas meninas que não tinham noção como se apresentar e conversar com os clientes internacionais. Tenho muita vontade de representar o pais lá fora”, revela.Quanto ao mercado publicitário, a jovem de 24 anos pretende deixá-lo para traz. “Quando eu não tinha os documentos alterados, era muito difícil. Tinha receio de participar de entrevistas, porque sempre rolava uma exposição. Já trabalhei como redatora publicitária e no atendimento de uma agência, mas agora quero me dedicar 100% à carreira de modelo. Não teria como conciliar as duas coisas”.A coluna deseja sorte à Graziella e Carolina. Arrasem, meninas!
Colaborou Danillo Costa