ONU declarou-se ‘extremamente decepcionada’ com o desrespeito dos beligerantes; Estados Unidos e Reino Unido pediram o ‘fim imediato’ da violência
Os combates no Sudão entre o Exército e um poderoso grupo paramilitar, que já duram quatro dias, deixaram ao menos 185 pessoas mortas e 1.800 feridas, segundo o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes. Os ataques aéreos já atingiram quatro hospitais em Cartum. Em todo o país, pelo menos 16 hospitais estão fora de serviço, segundo um grupo de médicos, que alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos. Desde o sábado, a cidade, de onde sobem colunas de fumaça, está envolta por um cheiro de pólvora. Intensos tiroteios não param e a aviação tem como alvo, no coração de Cartum, o quartel-general das FAR, um grupo de ex-milicianos que participaram da guerra na região de Darfur e posteriormente se tornou o reforço oficial do exército. Seus habitantes estão entrincheirados em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade. Nenhuma das partes divulgou baixas. O conflito no Sudão envolve o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país, e seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como “Hemedti”, comandante das Forças de Apoio Rápido. As FAR, que foi vista nesta terça-feira em caminhonetes atirando para o alto, na entrada de vários prédios residenciais em Cartum, alegam ter tomado o aeroporto e entrado no palácio presidencial, o que o exército nega. Por sua vez, o Exército afirma controlar o quartel-general de seu Estado-Maior, um dos principais complexos do poder em Cartum. A televisão estatal, depois de dois dias de combates nas suas imediações, transmite agora imagens e declarações do Exército, que afirma ter recuperado terreno em muitos lugares. Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há interrupções de energia nas salas de cirurgia. Em outubro de 2021, eles se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder. “A situação é muito instável. É difícil afirmar para onde pende o equilíbrio”, afirmou em Cartum o chefe da missão da ONU no país. “Estou em contato constante com os líderes dos dois lados”, acrescentou Volker Perthes. Na segunda, Estados Unidos e Reino Unido pediram o “fim imediato” da violência no Sudão, como já o tinham feito a Liga Árabe e a União Africana. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu aos dois generais que “parem imediatamente com as hostilidades”, que podem ser “devastadoras para o país e toda a região”. Um pedido similar foi apresentado pelos chefes da diplomacia do G7, reunidos no Japão.
Dois gregos ficaram feridos em Cartum e cerca de 15 pessoas estão escondidas na igreja ortodoxa da cidade, impossibilitadas de sair por causa dos combates, disse o arcebispo metropolitano de Núbia e de todo o Sudão, monsenhor Savvas, que está dentro da igreja. A ONU, que propôs uma trégua humanitária de algumas horas no domingo, declarou-se “extremamente decepcionada” com o desrespeito dos beligerantes e denunciou nesta segunda-feira a “intensificação dos combates”. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu a ajuda no domingo após a morte de três membros de sua equipe nos combates da província de Darfur (oeste), apesar de mais de um terço dos 45 milhões de sudaneses precisar de ajuda humanitária. “Esta é a primeira vez na história do Sudão desde sua independência (em 1956) que se observa tal nível de violência no centro de Cartum”, declarou Kholood Khair, fundadora do centro de pesquisas Confluence Advisory. A capital sudanesa “sempre foi o lugar mais seguro do Sudão”, mas agora “há combates por todos os lados, inclusive em áreas densamente povoadas, porque os beligerantes acreditam que um alto número de civis mortos deterá o outro lado”, acrescentou.
Com informações da AFP e Jovem Pan