Na Região dos Lagos, casas estão sendo erguidas sobre as dunas em área onde são vedadas construçõesNão se pode dizer que inexiste combate às milícias — na semana passada, uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público prendeu 14 pessoas ligadas a grupos paramilitares que exploravam negócios imobiliários ilegais. Mas a batalha contra essas organizações criminosas precisa ser sistemática e abrangente. Principalmente porque há tempos as quadrilhas se espalharam por praticamente todos os cantos do estado, estando presentes, por exemplo, na Baixada, Costa Verde e Região dos Lagos. E, embora sejam mais numerosas na capital — onde, segundo estimativas, dois milhões de pessoas vivem em áreas controladas por milicianos —, há que se combatê-las em todas as frentes.Mas, pelo visto, isso não vem ocorrendo. O que fica evidenciado pela multiplicação de casas erguidas sobre as dunas do Parque Estadual Costa do Sol, loteadas criminosamente por milicianos e traficantes, como mostrou reportagem do GLOBO publicada no domingo. A unidade de conservação, que se estende por seis municípios da Região dos Lagos, não poderia ter construções, por ser de proteção integral.A invasão da área de restinga não aconteceu de uma hora para outra. Ela existiria pelo menos desde 2018. É verdade que o crime está sendo investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público — o MP argumenta que as construções surgem da noite para o dia e são ocupadas imediatamente, o que dificulta o processo de demolição. Tática aliás semelhante à empregada nos prédios clandestinos da Muzema. Mas, se há casas de alvenaria em profusão sobre as dunas, como mostra foto que ilustra a reportagem, é porque está havendo falha na fiscalização.O presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Claudio Dutra, alega que este ano já foram derrubadas 195 construções irregulares . Porém, este costuma ser o caminho mais longo, pois em muitos casos essas decisões vão parar na Justiça. Haja vista o que está acontecendo com prédios condenados da Muzema, ainda de pé, amparados por liminares. Mais eficaz é impedir que as casas sejam erguidas e ocupadas. E isso naturalmente demanda trabalho conjunto de estado, prefeituras, Ministério Público e polícias.Sabe-se que grilagem, loteamentos irregulares, construção e venda de casas erguidas ilegalmente são hoje o grande negócio da milícia. Portanto, as invasões do Parque Costa do Sol não são isoladas, alvo de famílias sem moradia. São comandadas por criminosos, sejam eles milicianos ou traficantes. E como tal exigem uma resposta mais firme do estado. Antes que se tornem definitivas. E não haja mais o que fazer.
EDITORIAL DO JORNAL O GLOBO – Loteamento da milícia em parque estadual demanda ação firme
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