Incansável em sua dedicação, sua vida é exemplo do muito que se pode fazer. E poderoso estímulo para que não se ignore tanta gente desvalida e necessitada.
Hoje, o papa Francisco declara a santidade de Irmã Dulce. Nascida em Salvador no dia 26 de maio de 1914, ela faleceu no dia 13 de março de 1992. Sua vida é um exemplo de serviço generoso aos outros, especialmente aos doentes e mais necessitados. Além do aspecto estritamente religioso, a canonização de Irmã Dulce representa uma justa homenagem a um trabalho social profundamente meritório, realizado com abnegação ao longo de décadas.
Com uma garra impressionante, “o anjo bom da Bahia”, como ficou conhecida Irmã Dulce, soube enfrentar inúmeras dificuldades financeiras, e também de saúde, para levar adiante o seu ideal de serviço. “O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios. Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós”, dizia Irmã Dulce. Nos últimos 30 anos de vida, ela conviveu com um enfisema pulmonar, que reduziu sua capacidade respiratória em 70%. Chegou a pesar 38 quilos.
Irmã Dulce foi também exemplar em sua capacidade de envolver muitas pessoas em seus projetos, o que possibilitou que esse influxo positivo de serviço e dedicação aos outros tivesse continuidade após seu falecimento. A organização que reúne as obras sociais fundadas pela nova santa, as Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid), é um enorme complexo filantrópico, incluindo desde uma escola de ensino integral até uma série de hospitais e centros médicos, como o Hospital Santo Antonio, o Centro Geriátrico, o Hospital da Criança, a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, todos em Salvador. Trata-se de um dos maiores complexos hospitalares mantidos integralmente pelo Serviço Único de Saúde (SUS).
O complexo médico realiza 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais por ano, atendendo idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pessoas em situação de rua e risco social, entre outras. Todo o atendimento é gratuito. O centro médico atende 2 mil pessoas por dia. Anualmente, são realizados 2 milhões de procedimentos, com 12 mil cirurgias e 18 mil internações.
A cerimônia de canonização de hoje é também o reconhecimento de que as grandes obras humanitárias nascem pequenas, sem brilho e sem holofotes. O que hoje recebe um tributo de âmbito universal, chamado a durar no tempo, teve origem numa casa modesta, sem nada a destoar da realidade de tantos lares brasileiros.
Em 1927, quando tinha 13 anos, Irmã Dulce começou a acolher doentes e moradores de rua em sua casa. Na época, chamava-se Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Aquele lugar de atendimento informal ficou conhecido como “a portaria de São Francisco”. Em 1933, ao ingressar na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, adotou o nome Dulce, em homenagem à sua mãe, falecida quando ela tinha apenas sete anos. Seu pai, Augusto, era dentista e professor da Universidade Federal da Bahia.
Irmã Dulce recebeu formação de normalista, oficial de farmácia e auxiliar de serviço social. No início de sua vida religiosa, foi professora de uma escola mantida pela Congregação, tendo dado aulas, entre outras matérias, de geografia e história. Em 1935, iniciou um trabalho assistencial nas comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, um conjunto de palafitas no bairro de Itapagipe. Nessa época, também começou a atender os operários, criando um posto médico. Em 1936, fundou a organização católica “União Operária São Francisco”. A organização filantrópica que hoje leva seu nome foi fundada em 1959.
A comprovar a riqueza de sua personalidade, Irmã Dulce tinha também grande apreço pelas artes. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, palco de shows de grandes nomes da MPB. A religiosa ainda criou dois cinemas em Salvador.
A história de Irmã Dulce é demonstração de grande entusiasmo pela vida. As dificuldades não a detiveram. Incansável em sua dedicação, sua vida é exemplo do muito que se pode fazer. E é também poderoso estímulo para que não se ignore tanta gente desvalida e necessitada.