Em evento com empresários, ministro da Economia diz que inflação vai desacelerar as atividades, mas que ‘não é tão ruim quanto estão dizendo’
O ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou nesta sexta-feira, 3, as previsões de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2022 e afirmou que o Brasil “está de pé”. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta-feira, 2, mostraram as atividades econômicas brasileiras recuaram 0,1% no terceiro trimestre, a segunda queda consecutiva após a retração de 0,4% entre abril e junho. “O Brasil voltou, o Brasil está de pé. Agora as pessoas estão rolando a desgraça para o ano que vem”, disse o chefe da equipe econômica em um evento para empresários do ramo químico. Em diversos momentos, Guedes reclamou das estimativas negativas para a economia do próximo ano e classificou as previsões como “falsas narrativas”. O mercado financeiro estima que o PIB cresça 0,58% em 2022 após uma série de revisões para baixo, enquanto a previsão do governo federal é alta de 2,1%. “Não estou prevendo crescimento de 2%, 3%, 4%. Eu estou simplesmente descredenciando os mesmos analistas de sempre que estão politizando e criando falsas narrativas em cima de fatos”, disse Guedes.
O constante corte das expectativas da economia é justificado pela aceleração dos juros pelo Banco Central em resposta ao aumento da inflação ao patamar de dois dígitos. O ministro admitiu que a alta da variação de preços vai desacelerar as atividades no próximo ano, mas ponderou que o fenômeno é transitório. Em compensação ao entrave gerado pela pressão inflacionária, Guedes citou o aumento dos investimentos privados como propulsor da economia. “De um lado tem o fator de desaceleração, que é o Banco Central combatendo a inflação, e do outro temos um fator de sustentação de crescimento, que é a taxa de investimentos”. O ministro ainda pediu para que os empresários não cedam “ante previsões catastróficas”. “Não significa que eu ache que é o melhor governo do mundo, que nós estamos fazendo a melhor coisa do mundo. Eu só estou dizendo o seguinte: não é tão ruim quanto estão dizendo”, afirmou.
O ministro da Economia reforçou o discurso de crescimento em “V” da economia doméstica — quando uma forte queda é seguida de um avanço robusto —, e disse que o país está em transição de uma economia cíclica baseada na transferência de renda para um modelo de crescimento sustentável. “A recuperação em ‘V’ se refere ao nível do PIB, que foi lá embaixo, caiu 4%, e já voltou. Os programas de proteção do emprego e preservação da economia já funcionaram, a recuperação cíclica já aconteceu, nós já estamos de volta.” O ministro afirmou que a queda de 8% da agricultura no 3º trimestre, um dos principais fatores para a retração da economia, foi um “acaso” gerado por questões climáticas e que esse impacto será dissipado pela economia. “Os críticos de sempre apareceram dizendo: ‘tá vendo, o PIB caiu, não vai ter crescimento, acabou o crescimento em ‘V’”. Senhores, a recuperação em ‘V’ já aconteceu.”
Guedes também voltou a defender a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, aprovada nesta quinta-feira pelo Senado. “A versão final aprovada não é exatamente a nossa versão, mas ela é satisfatória do ponto de vista de criar exequibilidade no orçamento anual e, ao mesmo tempo, dar previsibilidade aos gastos futuros”, afirmou, ressaltando que os R$ 106,1 bilhões abertos no Orçamento de 2022 não vão para o uso político. “O dinheiro está sendo usado exatamente para reforçar os programas sociais.” A aprovação da PEC é fundamental para que o governo aumente o valor do Auxílio Brasil para R$ 400 até dezembro de 2022. O texto foi devolvido à Câmara para uma nova votação após mudanças no Senado. O ministro também disse que o trecho que muda a regra do cálculo da inflação no teto de gastos, um dos mais polêmicos da medida, não partiu do Ministério da Economia, mas é “tecnicamente defensável”. Aos empresários, Guedes também disse que “não é um ato de inteligência sabotar a reforma do Imposto de Renda”. A medida, que era a primeira opção para o governo ter recursos para financiar o aumento do Auxílio Brasil, foi aprovado pela Câmara, mas encontra forte resistência no Senado. (JP)