Mensagens marcando data, local e hora para supostos “suicídios coletivos” têm circulado entre estudantes de escolas privadas de Fortaleza, desde a última quarta-feira (17), motivando abertura de investigação policial. Brincadeira ou real ideação, os “chamados” podem ser qualificados como crime, mas são também um alerta para a saúde mental. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará informou, em nota, que a Polícia Civil (PCCE), por meio do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) e do Departamento de Inteligência Policial (DIP), já identificou suspeitos de envolvimento na divulgação das mensagens. A Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) abriu investigação sobre o caso, que será tratado como ato infracional análogo ao crime de indução ou instigação ao suicídio, previsto no artigo 122 do Código Penal. A reportagem questionou à PCCE se alguém foi preso ou apreendido, mas ainda aguarda resposta. Henrique Soárez, diretor de escola e representante do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), afirma que a instituição está ciente dos casos, e que “não é a primeira vez que se depara com esse tema, de modo que todas as escolas têm essa como uma preocupação constante”. Segundo o educador, “cada uma das escolas está cuidando dos seus alunos de forma individual”, enquanto o Sinepe está “interagindo com as autoridades locais e nacionais para organizar uma ação de orientação para as famílias”. Em nota, o Ministério Público do Estado (MPCE) cobrou das escolas estratégias “desde o monitoramento do alunado, notadamente daqueles que se encontram na faixa de maior sensibilidade para o tema, bem como a realização de campanhas universais e específicas, além da capacitação contínua do seu corpo funcional”. O órgão ressaltou, ainda, os efeitos da pandemia sobretudo à saúde mental de crianças e adolescentes, e destacou a importância do não compartilhamento de postagens ou replicação de conteúdos que incitam o suicídio.A psicóloga Layza Castelo Branco, professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e especialista em psicologia da adolescência, avalia que os “convites” podem ser “tanto uma brincadeira, usando a palavra suicídio como metáfora; como algo feito por alguém em profundo sofrimento psíquico, adoecido”. Por esse motivo, a profissional orienta que a abordagem junto aos adolescentes não deve ser punitiva, julgadora, mas no sentido de compreender o que têm sentido, inclsuive em relação às demandas escolares, que podem ser excesivas em alguns épocas do ano.Por esse motivo, a profissional orienta que a abordagem junto aos adolescentes não deve ser punitiva, julgadora, mas no sentido de compreender o que têm sentido, inclsuive em relação às demandas escolares, que podem ser excesivas em alguns épocas do ano. Layza destaca que os pais ou responsáveis podem e devem questionar os filhos sobre o assunto “sem tabus”, uma vez que tem se notado “uma banalização da questão”. “É perguntar se o filho viu os ‘convites’, o que achou, o que significa pra ele. Ouvir”, frisa. “Quem faz uma brincadeira dessa não tem noção do quanto atinge e machuca tanto pessoas que já perderam parentes por suicídio como as próprias pessoas que estão adoecidas e pensam, de fato, nisso. Essa não é uma questão banal”, alerta.
(RBN E DN)