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OPINIÃO: Vícios e contradições no jornalismo

por Ornan Serapião
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Foto Ilustrativa (Reprodução)
Foto Ilustrativa (Reprodução)

Sem apontar “quem”, “onde”, “quando” nem “como”, a Gerente de Jornalismo da RBS Caxias, Andreia Fontana, escreveu em Zero Hora que, por todo o mundo, jornalistas são alvos de hostilidade; no Brasil, “vítimas de agressão moral e até física”. Mas, do que é mesmo que está falando? Em concreto, plano dos fatos, ela apenas relatou ter sido ameaçada de morte por matéria em que mostrava a pobreza de alguém cuja casa “alaga a cada chuva”. Antes de mais nada, lembremos um bom exemplo de respeito ao jornalismo. No tempo do império, chargistas ridicularizavam sem cerimônia Dom Pedro II, ao ponto de colar nele o apelido de Pedro Banana. Como reagia o imperador? Respondia simplesmente “Os ataques ao imperador não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário.” É um paradoxo da democracia respeitar a livre manifestação inclusive dos que querem acabar com ela. E não tem remédio. Hoje é comum que colunistas de O Globo e da Folha de S. Paulo publiquem artigos em que clamam pela morte do presidente da República, que, nesse aspecto, embora sem a elegância de Dom Pedro II, tem agido bem: Bolsonaro nunca usou o poder para reprimir tamanha iniquidade. Até agora, ele só prometeu aplicar a lei contra a Globo, que deve muito e não quer pagar. E cumprir a lei é dever do governante. Volto a Andreia Fontana. Ela declara que “a postura de políticos autoritários pelo mundo tem fomentado a hostilidade contra jornalistas.” Pode ser. O jornalista Políbio Braga tem sido alvo de virulentos ataques por parte das deputadas socialistas Luciana Genro e Fernanda Melchionna, o que já produziu dois resultados repudiáveis. No primeiro, o Dep. Gabriel Souza (MDB), presidente da Assembleia Legislativa do RS, sem noção republicana, atendeu pedido de Luciana Genro e sustou publicidade paga pela Assembleia no blog do jornalista. Frise-se que a escolha do blog para anunciar não foi pessoal: baseou-se em dados técnicos do Google Analytics sobre índices de leitura. No segundo, uma conhecida ativista do PSOL, surfando na mesma onda autoritária, foi às redes sociais e acusou Políbio de “criminoso”, além de expor seus patrocinadores para constrangê-los a não anunciar no blog. Será dessa “postura autoritária” que Andreia Fontana está falando?

“Escrevemos sobre o que é abrangente, grave, tem caráter histórico, peso no contexto, enfim, sobre o que é importante”, diz ela sobre seu ofício.

Vale então lembrar eventos que decretavam a morte da democracia e que, apesar disso, foram ignorados pelos grandes órgãos de imprensa e seus jornalistas, inclusive o Grupo RBS de Andreia Fontana. Em 2009, o governo Lula tentou impor ao país o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH), que previa desde subordinar decisões judiciais aos ditos “movimentos sociais” até impor um cabresto a jornalistas com a implantação do “controle da mídia”. O PNDH foi derrubado pelo Congresso Nacional. Mas Dilma voltou à carga em 2014 com o Decreto 8243, isto é, com um PNDH repaginado, em que não poderia faltar, claro, o “controle da mídia”. Felizmente, não conseguiu. Salvo alguns profissionais independentes, a categoria dos jornalistas jamais denunciou o projeto autoritário do lulo petismo. E a maior parte da população não sabe que esteve a um passo de viver numa ditadura. Aliás, esse PNDH seria a aplicação no Brasil das diretrizes do nefasto Foro de S. Paulo (FSP), uma tragédia que se consumou na Venezuela e que, neste momento, se desenrola rapidamente na infeliz Argentina. Aí está! Quando foi que algum dos grandes grupos de mídia do Brasil – entre eles, a RBS – fez matéria sobre o FSP? Fundado em 1990 por Hugo Chaves, Fidel Castro e Lula, o FSP, graças à omissão da imprensa, manteve-se oculto por mais de duas décadas. Mas não há dúvidas de que jornalistas estão expostos à violência. Em 2002, o repórter Tim Lopes foi à favela Vila Cruzeiro, no Rio, para uma reportagem investigativa: conforme denúncia de moradores, havia no local um baile funk promovido por traficantes em que acontecia a exploração sexual de adolescentes e a venda de drogas. Os bandidos da facção que dominava a favela sequestraram, torturaram e mataram Tim Lopes. Depois, esquartejaram e queimaram o corpo. Mas, como já se vê, jornalistas não honram a memória de Tim Lopes. Em 06/05/2021, policiais foram à favela do Jacarezinho, no Rio, para cumprir ordens legais de desmontar esquemas em que os bandidos dão treinamento de tiro a crianças e adolescentes, e os obrigam a estar na linha de frente nos embates com a polícia. Foram recebidos a bala, confronto que terminou com 29 mortos, dos quais, o único não criminoso foi um policial assassinado. No entanto, como bem observou J.R. Guzzo, os grandes órgãos de imprensa trataram os bandidos mortos no Jacarezinho como “mártires de uma luta social dirigida contra os pobres, os negros e os favelados.” Mas não há efeito sem causa. Esse padrão de jornalismo não vem do nada. Conta Alexandre Garcia que, num encontro com estudantes de jornalismo da Universidade de Brasília, na década de 1990, um professor declarou: “Eu ensino os meus alunos a serem militantes ideológicos para combater o status quo opressor”, descrevendo uma conduta que hoje é um padrão. Nos últimos 40 anos, a universidade não parou de piorar, cada vez mais empenhada em fazer que os futuros educadores, operadores do direito e jornalistas (os profissionais mais estratégicos para subverter a ordem e implantar uma ditadura socialista) sejam “militantes ideológicos”. É claro que há professores (minoria) que se opõem à militância da sala de aula e alunos (futuros profissionais) que revertem os efeitos da lavagem cerebral. Ademais, entre os docentes, os Maquiavéis são muito poucos, até porque, para ser maquiavélico, é preciso talento. A maioria peca por omissão, mediocridade e dedicação exclusiva ao auto interesse. É cabuloso, pois, que, ao ressaltar que “um bom jornalista sabe o que é notícia em qualquer lugar do mundo”, Andreia Fontana aponte, como um “antídoto para evitar desvios” os quatro anos da formação universitária. Ela não faz qualquer crítica aos vícios da mídia. Só louvação. Começa o artigo por dados autobiográficos. Depois afunda no “vitimismo” (ideologia inoculada na faculdade) ao dizer, de modo obscuro, que sua categoria é perseguida. No fim, apela para o “salvacionismo” do leitor:”(…) espero que a sociedade se dê conta de quem ganha e quem perde com uma imprensa fraca e salve os jornalistas.” Ora, o que a “sociedade” precisa fazer é criticar este “new journalism à tupiniquim”, em que, na faculdade, os moços são induzidos a fazer reportagem de modo subjetivo em prejuízo da objetividade. Pois que a “sociedade” se espelhe no exemplo de Dom Pedro II, mas saiba distinguir entre o jornalista que é “militante ideológico” e aquele que, tendo apego à verdade, respeita os fatos.

Foto de Renato Sant'Ana

Renato Sant’Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

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